07/08/2015

São Paulo é o maior rival do Corinthians hoje.

Goleiro (?) corintiano pula em 100º gol de Ceni
Até a imprensa corintiana teima em admitir (e sim, essa imprensa existe, como também a são-paulina, a santista e a palmeirense, só que é mais numerosa), mas é apenas uma prova do tamanho do clássico conhecido por "majestoso". A rivalidade hoje é tamanha que afirmar que o São Paulo é o maior rival do Corinthians seria como lhe conceder um título, tirando o bastão que dividiam com o Palmeiras e repassar àquele que é o grande "inimigo" da equipe de Itaquera, daí a sempre negação do óbvio, tentativa de fazer parecer o clássico entre pelestrinos e corintianos algo maior do que de fato é atualmente, a diminuir em importância o tamanho do clube do Morumbi.

Mas o palmeirense há de convir que o grau de rivalidade com o Corinthians diminuiu substancialmente. Até eu que fui torcedor da equipe alvi-negra durante toda a infância e parte da adolescência, que pude pegar partidas memoráveis entre os dois clubes no final e começo dos anos 2000, quando tanto Palmeiras quanto Corinthians sempre estava a brigar por grandes títulos, também não posso me negar a constatar o ululante.

Só que as coisas mudaram muito depois da saída da Parmalat, quando o outrora Palestra Itália perdeu força, colecionou campanhas ruins e dois rebaixamentos e viu ainda um dos seus grandes rivais consolidar um processo de subida não apenas nos campos, mas também no coração dos brasileiros: o São Paulo Futebol Clube, que ganhou três campeonatos brasileiros, um mundialito e uma libertadores nos anos 2000, passou a ser a segunda maior torcida do Estado de São Paulo e extremamente popular em vários rincões do país.

Não foi à toa que dois símbolos importantes de conquista dos corintianos nos últimos anos teve o São Paulo como "base". Um foi a conquista da "casa própria", o estádio. Durante décadas o grande palco futebolístico do Estado foi o Pacaembu, que era e é municipal. A situação começou a mudar com a construção do Morumbi. E no estádio Cícero Pompeu de Toledo, sobretudo a partir dos anos 80, é que as grandes decisões e os jogos mais importantes -- mesmo os que não envolviam o dono -- passaram a ser disputados. Muitos a envolver Corinthians e São Paulo, porém.

E conforme o tricolor paulista foi alcançando vitórias e sucesso, a pauta de ter um estádio, e seu principal rival não, tornou-se ponto central nas discussões e provocações entre os clubes. O jargão do time "sem estádio" para designar o Timão ainda que tenha sido usado por várias torcidas, ganhou simbolismo na boca de são-paulinos.

O outro ponto de ligação foi a obsessão pela Taça Libertadores da América. E assim passou a ser após as conquistas tricolores no início dos anos 90, com o bicampeonato em 92 e 93 e o vice em 94. Tais campanhas não apenas acenderam a importância da competição no país, até então meio negligenciada, como fez cair no Corinthians a obrigação (como até 2012 o único dos grandes paulistas a não ter uma) de conquistá-la. Algo que aumentou conforme a rivalidade com o São Paulo crescia, o time do Morumbi se tornara o mais vitorioso do país e as comparações com a equipe mais popular do Estado se transformassem em corriqueiras. Como diz um amigo, para entender os dilemas corintianos do século XXI, inclusive os ruins, como uma certa vergonha de ser conhecido por ser um clube com apelo entre os mais pobres (basta ver alguns discursos das diretorias recentes), é preciso ir até o São Paulo, equipe de tradicional torcida de classe média alta (situação que para ambos os clubes mudou um pouco, mas que ainda é bastante vívida nos discursos).

Na época que eu era muito corintiano, 2006, 2007, não havia clube que eu odiasse mais que o São Paulo. E não havia ódio maior de torcida rival contra nós do que a ira dos são-paulinos. O Corinthians invejava o sucesso dentro das quatro linhas da equipe tricolor; e o são-paulino invejava a popularidade e imersão social, a paixão dos torcedores do seu grande rival. Ali a rivalidade entre os dois clubes já era gigantesca e o São Paulo o maior rival do Corinthians.

Não que isso tenha feito desaparecer o sentimento de oposição a Santos e Palmeiras. Sempre esteve ali. Em alguns momentos de forma bem acentuada em relação ao primeiro, quando por exemplo este foi campeão brasileiro em 2002 e 2004 e acumulou seguidas vitórias contra o Corinthians. Mas a situação nunca foi a mesma. Eu diria que até de uma forma inconsciente, passada de mais velhos para mais jovens, o Santos é encarado de modo especial pelas torcidas nos estádios. A magia de ter sido o time de Pelé, de mais recentemente ter sido a equipe de Neymar. Há uma reverência ao Santos que impede que o odeiem até o limite da existência (e do campo esportivo, claro, embora essa relação seja embaraçosa), o que é a base de toda grande rivalidade.

Com o Palmeiras, hoje, eu diria que o Corinthians faz um clássico tradicional. O sentimento de rivalidade passa longe de ser o mesmo de 20 anos atrás. Em 2012, por exemplo, quando o Corinthians vivia o ápice de sua história ao mesmo tempo que o Palmeiras estava uma vez mais no fundo do poço, em vez de alegria eu via nos corintiano um enorme sentimento de consternação -- situação que seria completamente diferente caso fosse o São Paulo sendo rebaixado. A relação dos clubes, historicamente próxima, ganhou um tom muito amistoso nos últimos anos. Inclusive quando na tentativa de diminuir o São Paulo alguns corintianos insistem que jogam com o Palmeiras seu maior clássico. Muitos alviverdes se sentem lisonjeados com essa afirmação.

Domingo agora, dia 09, São Paulo e Corinthians entrarão mais uma vez em campo para disputador o "majestoso" pelo Campeonato Brasileiro, no Morumbi, às 16 horas. E será naquele campo, tão emblemático para ambas equipes, que será escrito mais um episódio. Esperamos todos que de bom futebol e muitos gols -- o que é bastante improvável.

Segue o jogo.

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