03/08/2015

José Dirceu, a esquerda e o fracasso do projeto social-democrata.

A prisão de José Dirceu logo no primeiro dia após o retorno do recesso parlamentar é algo que poucos esperavam e que deve mexer substancialmente no jogo que será travado daqui em diante e que já dava sinais explosividade tanto na Câmara dos Deputados, com Eduardo Cunha envolto a escândalos, quanto nas ruas, com a convocação para mais uma manifestação da direita e que agora tem um objetivo claro: derrubar Dilma Rousseff.

Os números ruins da economia, a crise política generalizada e agora consubstanciada com a prisão mais uma vez de Dirceu, figura central no processo de remodelamento do PT nos anos 90 e 2000, em sua inserção na política burguesa e ascensão à presidência da república, empurrará o PT, como afirmou Kennedy Alencar em sua coluna, para uma situação melancólica em que o limite para sua saída parece mesmo ser 2018.

A questão hoje me parece saber se o PT resistirá até lá, o que dependerá muito dos interesses políticos da oposição. Para Alckmin, provável candidato do PSDB para 2018, um impeachment seria catastrófico; já para Aécio, a única possibilidade de salvação -- basta lembrar que o índice de rejeição do candidato tucano ao fim da eleição era maior que o de Dilma. E como afirmou Fernando Haddad recentemente, nos bastidores a situação do mineiro não é das mais alvissareiras.

Sobre os movimentos de rua, é necessário esperar o que virá. A prisão de Dirceu, acusado de envolvimento no processo de corrupção da Petrobras e alvo da investigação Lava-Jato, tende a insuflar o anti-petismo. Mas outras questões aparecerão certamente. Cunha está na linha de frente. E o presidente da Câmara é um dos aliados dos movimentos de coordenação dessa direita que irá às ruas. Nomes da oposição, até aqui blindados, podem ser uma vez mais colocados em evidência. E ainda que as críticas ao Governo Federal pela situação econômica estejam na boca do povo, com os índices de popularidade no chão, a maioria da população entende que a corrupção não é só coisa do PT.

Mas, de qualquer modo, quase um ano após a vitória de Dilma em uma eleição para lá de concorrida, a situação do seu governo é a pior possível. A social-democracia petista que chegou ao poder com um projeto de conciliação com a burguesia e calcada em um neodesenvolvimentismo que levaria o Brasil ao patamar de potência, sediando coisas como Copa do Mundo e Olimpíadas, por exemplo, na busca de fazer o bolo inchar para aos poucos dividi-lo, sempre tendo como base a idéia de que seria preciso um colchão social pra tirar as pessoas da miséria, vai indo para o ralo e consigo trazendo o fantasma do recrudescimento de uma direita com ares fascista.

Nesse processo todo, de aburguesamento enquanto partido do PT, que nunca foi socialista -- e isso é preciso ser dito! -- e que se espelhou nos social-democratas cristãos da Europa desde os anos 80, fazendo oposição ao marxismo-leninismo e a outros partidos que evocavam o socialismo, marxista ou não, a quem o PT chamava de ultrapassados, a áurea de um partido diferente, de um projeto limpo, democrático, calcado na boa política, já foi completamente para o buraco. E com ele o seu grande mentor, José Dirceu, que criou uma máquina poderosa capaz de vencer qualquer eleição e de ser forte em qualquer lugar.

A esses crimes todos que pesam sobre a legenda petista a esquerda como um todo vai acabar por pagar a conta. A mácula de corrupção, ano após ano associada pela imprensa não só ao PT, mas a todos os partidos de esquerda, vai demorar a ser modificada no imaginário dos brasileiros. A direita, que já está organizada e orgânica, deve retomar com tudo -- se não agora, repito, ao mais tardar em 2018. E à esquerda ficará a lição, uma vez mais demonstrada, de que a conciliação não é e nunca será possível. Ou romper com a burguesia ou fatalmente sempre seremos reféns da dita cuja, sendo o retorno a governos de direita sempre o caminho mais próximo e inevitável.

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