04/08/2015

Mais demissões no rádio e a proletarização dos setores médios.

(Isso é só o fim) Há pouco fiquei a saber que mais dois jornalistas perderam seu emprego em virtude de uma ação "de otimização e corte de custos" na Rádio Bandeirantes (sim, sempre alegam isso. Otimização e corte de custos. Otimizar o quê, afinal?).

Os dois colocados na berlinda dessa vez foram Alexandre Praetzel e Vanessa Ruiz. Do primeiro eu particularmente pouco tenho a falar. Eu o vi em algumas participações na televisão e durante a madrugada o "encontrei" ocasionalmente no "A caminho do sol" da mesma Bandeirantes, outrora um espaço muito bom, mas que hoje é um mero panfleto conservador como quase todos os programas da emissora.

Quanto à Vanessa, desde que passei a ouvi-la na CBN por volta de 2008, 2009, sempre gostei do seu trabalho. Em sua época que cobria F1, acabei por aprender muito sobre a categoria e de seus bastidores com a jornalista, que mostrava-se preocupada também em nos trazer essas discussões -- que em tempos de corridas modorrentas, e as corridas da F1 quase sempre foram modorrentas, trazem a tônica de alguma emoção. Fiquei a saber há pouco tempo que estava na Bandeirantes, o que não me permitiu acompanhá-la melhor por lá, mas pela sua conhecida qualidade eu posso cravar que será uma perda significativa pra quem ainda se dispõe a ouvir a rádio.

No entanto o problema maior que está envolto a isso é a sabida e sempre denunciada por marxistas proletarização dos então tidos como profissionais médios, os professores, advogados, médicos e jornalistas. Se a barbárie capitalista, do trabalhador visto como mera peça, ficava restrita ao campo do trabalho manual há algum tempo, essa situação já é coisa do passado e ela foi absolutamente "democratizada". Qualquer um, não importa o que faça ou sua relevância, corre o risco de ser trocado, jogado na rua, como um copo descartável cujo uso não faz mais sentido.

Isso sempre deixa bem claro para grupos que historicamente embora muito mais próximos das condições de vida do trabalhador comum se viam como uma espécie de "pequena burguesia", uma classe média ilustrada, do que de fato são e com quem devem lutar. No capitalismo -- e isso é uma coisa que a classe média que odeia o PT pela direita não entende -- a diferença dos mais ricos para os mais pobres é sempre crescente. A classe média é aos poucos engolida e sua distinção para o resto da população é abolida, seja quando há um momento de estabilidade econômica, e aí a condição dos pobres melhora um pouco, seja quando há crise, quando todos empobrecem (exceto a burguesia, que sempre lucra mais), e o "capital" avança demitindo, superexplorando e marginalizando.

Essas demissões todas são apenas uma mostra desse cenário. Um cenário que chega às vias do inacreditável quando se vê alguém como Claudio Carsughi, há mais de seis décadas numa emissora, sempre pontual, profissional e atual em seus comentários, ser demitido de uma forma absurda, cruel e desumana, sem o dono da emissora sequer ter a dignidade de ir comunicá-lo da decisão e designar a um profissional da casa, colega do italiano, o fatídico despacho.

Praetzel e Ruiz são apenas mais dois nomes que entram nessa terrível lista que não poupa a nada e nem ninguém; o trabalho, a dedicação, o esforço e o carinho pela labuta pouco importam diante dos frios números de empresas geridas de forma irresponsável (só olhar o tanto que o grupo perdeu com a Fórmula Indy, que dá traço no canal e é tratada de qualquer jeito pela emissora de tevê). E quem paga o pato, seja entre os mais pobres ou na classe média, é sempre o trabalhador. Com sua demissão muitas das vezes. É pois aqui o caso.



Desabafo do Mauro Beting

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