Por Atilio Borón - Texto publicado em 16/08/2010
No
dia 6, completou-se 65 anos do ataque nuclear dos Estados à cidade
Hiroshima no Japão, uma monstruosidade que se repetiu três dias depois
com a outra bomba atômica sobre Nagasaki.
Em
uma primeira contagem as duas explosões mataram cerca de 220 mil
pessoas, 140 mil em Hiroshima e 80 mil em Nagasaki. A esmagadora maioria
de vítimas era civil, já que essas cidades não abrigavam contingentes
militares importantes, sendo que a metade morreu imediatamente, no dia
do atentado.
Em sua
edição do dia 6, ao se dar conta do aniversário do ataque, o New York
Times diz que as vítimas morreram instantaneamente devido à excepcional
intensidade da explosão que reduziu às cinzas as edificações da cidade e
os corpos de seus habitantes foram literalmente vaporizados, deixando
apenas vestígios fantasmas e sombras sobre as poucas paredes ainda de
pé.
O restante da citada
população faleceu ao longo do tempo devido a queimaduras horríveis e
aos efeitos da radiação, ou seja, condenados a uma lenta e dolorosa
agonia. O registro atual dos mortos nos dois atentados, fornecidos em
2008, teve um quantitativo de 400 mil pessoas e é muito provável que
este número suba ligeiramente nos próximos anos. Até hoje, os
acontecimentos de Hiroshima e Nagasaki são considerados os únicos
ataques nucleares da história, mas a proliferação de armas desse tipo
pode repetir esta experiência trágica. Na verdade, a frota naval
estadunidense-israelense que navega pelo estreito de Hormuz está pronta
para atacar o Irã e é composta por um formidável arsenal nuclear.
Recentemente,
o comandante Fidel Castro advertiu sobre o risco de um holocausto
nuclear e advertiu o presidente Barack Obama sobre isso, já que sua
ordem de ataque teria um ponto de não retorno, desencadeando assim um
conflito internacional com projeções incalculáveis e sombrias. Por outro
lado, existem motivos razoáveis para supor que as sete bases militares
da Colômbia que Álvaro Uribe disponibilizou aos Estados Unidos também
podem contar com armas nucleares. Será necessário que uma delegação da
União de Nações Sul-Americanas (Unasur) inspecione essas bases.
Não
é exagero dizer que a história do terrorismo de Estado começou com o
ataque nuclear estadunidense sobre o Japão. Se o assunto é armas de
destruição em massa, os Estados Unidos levam uma salva de palmas, sem
competidor à vista. Seu bombardeio às duas cidades indefesas constitui,
sem dúvida, o mais grave e selvagem atentado terrorista da história da
humanidade. Esse fato não impede, entretanto, que os sucessivos governos
desse país se sintam com a autoridade moral para acusar e condenar
muitos países – como Cuba e Venezuela – por “fomentar o terrorismo”;
também não lhes traz nenhum dilema ético o fato de que eles dão abrigo
dentro de suas fronteiras a Luis Posada Carriles, terrorista comprovado e
confesso, e muitos de seus comparsas, enquanto mantém em prisões de
segurança máxima os cinco heróis cubanos que lutavam contra o terrorismo
e procuravam desbaratar suas sinistras maquinações.
A
comemoração realizada em Hiroshima no dia 7 de agosto tinha um
ingrediente especial: foi a primeira vez que um embaixador dos Estados
Unidos participou de um evento deste tipo. Mesmo assim esse cidadão não
mostrou nenhum sinal de arrependimento e sim apenas soberba e desprezo
pelo sofrimento alheio. Os diplomatas, funcionários e autoridades dos
Estados Unidos tradicionalmente têm evitado participar nessas cerimônias
por medo que sua presença possa reacender o debate sobre o pedido de
desculpas que Washington deverá fazer por seu monstruoso crime. O que
não fez em relação ao Vietnã, país cujo território foi devastado após
onze anos de massacres que custaram cerca de três milhões de vítimas,
civis em sua grande maioria. E muito menos em relação aos sandinistas da
Nicarágua na década de 80, ou ao meio século de agressão e sabotagem
contra Cuba. O imperialismo é assim e será inútil esperar por mudanças.
Para
justificar a sua brutal agressão, Washington diz que o bombardeio
atômico poupou milhares de vidas de soldados estadunidense e japoneses
que morreriam caso a invasão ao Japão ocorresse. No entanto, muitas
pessoas, mesmo nos Estados Unidos, afirmam que jogar a bomba em alguma
ilha deserta no Pacífico criaria o mesmo efeito de dissuasão sobre o
alto comando japonês e que, portanto, decidir lançar sobre Hiroshima e
Nagasaki foi um ato de crueldade desumana e conscientemente assumida.
Durante
a cerimônia, os manifestantes exigiram que os Estados Unidos pedissem
perdão ao Japão, que retirassem as suas bases militares do país
asiático, exigência diante da qual os EUA se fazem de surdos. Vale a
pena recordar uma declaração de Albert Einstein em relação aos perigos
de uma nova conflagração nuclear: "Se a 3ª Guerra Mundial acontecer com o
uso de bombas atômicas, na futura 4ª Guerra Mundial os exércitos
lutarão com marretas”. (Blog do Atílio Boron – www.atilioboron.com)
Atilio Boron é diretor do Programa Latino-americano de Educação à Distância em Ciências Sociais, em Buenos Aires (Argentina).
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