22/10/2015

Quem é Alexandre Garcia

O comentário realizado pelo jornalista da TV Globo ontem no jornal matinal da emissora causou indignação em muitos. Disse Alexandre Garcia, entre outras coisas, que o racismo no Brasil data da criação das cotas raciais. O senhor septuagenário, porém, só surpreende aqueles que não conhecem seu controverso histórico. Gustavo Gindre*, mestre na área de comunicação, expõe aqui quem de fato é esta figura e por que seus comentários não deveriam surpreender a ninguém:

"Todo mundo indignado com o Alexandre Garcia.
O povo se esqueceu que ele era apaniguado do Golbery e que foi assessor de imprensa do Figueiredo.
Perdeu o emprego quando deu uma entrevista na Ele&Ela, pelado na cama (coberto com uma toalha), dizendo que era ali que ele abatia as lebres.

Na Fundação Margareth Thatcher há um documento público, enviado por um diplomata inglês para o governo britânico, elogiando a cobertura pró-inglesa que o correspondente Alexandre Garcia fizera da Guerra das Malvinas. No mesmo bilhete consta que ele pediu, e obteve, uma reunião com o Pinochet.

Ora, Alexandre Garcia é um sujeito coerente. Ele segue sendo um escroto, defendendo, numa emissora escrota, um ponto de vista escroto."

Volto aqui: como se nota a figura não mudou nada nos últimos anos. Em 2010 causou indignação ao afirmar que era "uma maluquice" a campanha do Ministério da Saúde em que tentava desestigmatizar a situação de mulheres com HIV que desejavam a maternidade. No começo de 2015 gerou constrangimento dentro da Globo ao afirmar que a culpa da corrupção era dos eleitores que reelegeram os que aí estão (em clara referência à presidenta Dilma Rousseff) e por fazer comentários irônicos diante de movimentos que questionam a violência policial no país. Recentemente em um dos programas de rádio que participa fez um comentário indecoroso perguntando "onde estariam os defensores dos Direitos Humanos dos motoristas que ficam horas parados" ao ler uma notícia sobre engarrafamento.

O histórico desse senhor não engana, portanto. Diz exatamente de quem se trata e o porquê de seus comentários asquerosos.


21/10/2015

Conjunturas, poemas e o velho ódio de classe

O "patrão cordial" de Ricardo Bezerra
Por Mauro Iasi*

Um vídeo com uma análise de conjuntura realizada na abertura do Congresso da CSP-Conlutas, em junho deste ano, que terminava com um poema de Bertolt Brecht (“Perguntas a um bom homem”), causou frisson nas hostes da extrema-direita.
Não foi a análise de conjuntura em si, coisa mais complexa e que exige certa cultura política, mas o poema citado ao final que despertou a ira dos conservadores, atentos ao espaço virtual da luta de classes.

Na análise, comentava que diante das pressões que vinham de atos de massa contra e a favor do governo, o Palácio do Planalto demonstrava uma grande “boa vontade” para com a direita, anunciando sua disposição ao diálogo, ao mesmo tempo em que ignorava as demandas que vinham das bases sociais que se mobilizaram em seu apoio. Parecia-me, e ainda parece, algo equivocado e errático. Primeiro pelo simples fato de que os que se dispuseram a sair em apoio ao governo (aqueles atos foram mais claramente compostos pela base governista do que os que se dariam no dia 20 de agosto) anunciavam, além da defesa da legalidade e continuidade do mandato da Presidente, algumas outras demandas (contrárias ao ajuste fiscal, pela reforma agrária, em defesa da Petrobras etc.). E em segundo lugar porque era muito difícil derivar uma pauta clara do circo de horrores que foi a manifestação da direita, que em suma pedia a cabeça da Presidente na bandeja do impeachment.

Diante dessa constatação, alertava aos presentes que considerava uma ilusão a governante tentar manter-se pela via de aumentar as concessões à direita, já tão beneficiada pela linha geral do governo, e o evidente compromisso com os rigores do chamado “ajuste fiscal” que esfolava ainda mais os trabalhadores.
Passei por elementos conjunturais como a denúncia da reforma política que atacava os partidos de esquerda, enfatizando a necessidade de constituição de um “terceiro campo” à esquerda e que se fundamente nas demandas da classe trabalhadora e das massas exploradas. Após descartar que o modelo para isso viria do hoje já falecido Syriza, procurei recuperar, como fecho de minha fala, a ideia de que não devemos nos iludir, nem com as artimanhas governistas e muito menos com o canto de sereia da direita golpista.

Para tanto recorri, como costumo fazer, a um poema de Brecht que conheci ao ler o livro Violência: seis reflexões laterais, de Slavoj Žižek, para o qual a Boitempo gentilmente havia me convidado a escrever o posfácio. Sou absolutamente contrário a explicar piadas, metáforas e poemas. Mas vivemos tempos sombrios, então vamos lá (e quando digo “tempos sombrios” estou fazendo uso de uma figura de linguagem, não ensaiando um comentário meteorológico).

No poema, Brecht fala de um personagem que se queixa, diante daqueles com quem estava em guerra que, era afinal um “homem bom”, que não se deixava comprar, que era honesto, corajoso, sábio e não defendia “interesses pessoais”. O poeta então retruca a cada verso que um rio não pode ser comprado assim como o raio que incendeia uma casa, e passa a perguntar retoricamente a quem serve a sabedoria do homem que se achava bom, assim como que interesses defendia, se não os seus próprios.

Veja, para aqueles que não são muito afeitos a poemas e outras manifestações da alma humana, é bom explicar que não se trata de uma pessoa e outra conversando, muito menos uma posição pessoal. É uma metáfora de um encontro de classes numa situação dramática, na qual a classe dominante se encontra diante da possibilidade de ser julgada por aqueles que sempre explorou e dominou. As classes dominantes estão imersas numa falsa consciência (não vou pedir que a direita leia Lukács se ela mal entende Olavo de Carvalho…), isto é, ela realmente acredita que é “boa” e que faz o “bem” para a humanidade quando impõe o livre mercado, a propriedade privada dos meios de produção, o Estado burguês e seus instrumentos de repressão e extermínio. Ela realmente crê que faz isso para o nosso próprio bem, e por isso se espanta quando reagimos.

Por meio desse mecanismo ideológico, os membros de uma classe dominante podem se reunir na ceia de Natal, rezar ao nosso senhor Jesus Cristo, amar os mais próximos que estão à mesa, e sair mais tarde para crucificar, torturar e matar os “distantes”, criancinhas negras nas favelas, sírios, afegãos, palestinos ou líbios em seus países.

Quando esta autoilusão se vê numa situação limite da luta de classes, como aquela que o poema descreve, os trabalhadores apenas devolvem a ela seu discurso, envolto num belo embrulho de ironia. Brecht está aqui utilizando em seu texto este instrumento dramático que ele tanto gostava: “Está bem, já que dizes ser bom, vou matar-te com esta boa bala”.
É uma ironia, uma metáfora. Muitos foram mortos em fuzilamentos nos dois lados da luta de classes. Não há notícias de uma só pessoa que tenha morrido ao ser atacada por uma metáfora e ainda que muitos possam alegar que foram cortados por uma fina ironia, e que doeu, certamente não morrerão por isso. Brecht ficaria muito contente se pudesse saber que seus versos ainda incomodam a direita 59 anos depois de sua morte (ele morreu, não é uma metáfora, morreu mesmo).

Agradeço às muitas pessoas – amigos, conhecidos, camaradas, companheiros, alunos, colegas, entidades e mesmo gente que não conheço – pelo carinho e solidariedade empenhadas nesta hora.
E àqueles que entulharam minha página com ameaças, dizendo que gostariam de me fuzilar, me levar para o DOI-Codi para “brincar comigo”, que ameaçaram matar minha família, que expressaram seu desejo de que eu tivesse tomado um tiro na época da guerrilha (bom, eu tinha uns oito anos de idade, mas como eles torturam crianças é possível, não é?), que enviaram a foto do Comandante Guevara morto para dizer que fariam o mesmo comigo, que afirmaram que eliminariam todos os comunistas da face da terra, que eu quero mesmo “é uma piroca” (foi difícil entender a princípio, mas parece haver uma relação comprovada entre o conservadorismo e a homofobia), que vão me demitir de meu trabalho, que jamais poderei sair à rua, ir a restaurantes ou ser bem vindo em shows do Lobão… reafirmo apenas que, com tudo isso, conseguiram – de maneira muito mais didática do que fui capaz em minha análise – comprovar meu principal argumento: com a extrema-direita não é possível nenhum diálogo.

*
Mauro Iasi é professor adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ, pesquisador do NEPEM (Núcleo de Estudos e Pesquisas Marxistas), do NEP 13 de Maio e membro do Comitê Central do PCB. É autor do livro O dilema de Hamlet: o ser e o não ser da consciência (Boitempo, 2002) e colabora com os livros Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil e György Lukács e a emancipação humana (Boitempo, 2013), organizado por Marcos Del Roio. Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às quartas.

Sobre as ameaças fascistas ao PCB e ao camarada Mauro Iasi

Partido Comunista Brasileiro – PCB


COMITÊ CENTRAL


 Não temos ilusões! Não nos intimidamos!
(Nota Política do PCB)

O PCB, agradecendo a imensa e espontânea solidariedade que nos tem chegado desde um amplo campo político progressista e democrático, repudia os ataques realizados por meio virtual ao dirigente de nosso Partido, o camarada Mauro Iasi, por meio de comentários em sua página pessoal contendo ofensas, ameaças de agressão e até de morte, destilando o velho ódio anticomunista que caracteriza os segmentos reacionários e conservadores.
           
Desta vez, os ataques foram motivados por uma fala de nosso dirigente por ocasião de um congresso sindical no qual representou o PCB na mesa de abertura em que se discutia a conjuntura nacional. A posição do PCB, explicitada em nossas declarações e documentos, é a de combater a extrema direita e suas aventuras golpistas sem conciliar com o reformismo governista. Desta maneira, o que foi dito pelo camarada, há meses amplamente divulgado, na íntegra, nos meios de comunicação do PCB, destacava o fato de que o governo apresenta disposição de diálogo com propostas conservadores e neoliberais, como a chamada Agenda Brasil, ao mesmo tempo em que ignora solenemente a pauta dos que um dia constituíram sua base social.
          
O que se alertava na análise era o risco de se confiar nos setores conservadores, uma vez que estes não estão de fato propondo diálogo algum, expressando apenas, como é de sua natureza, os interesses do capital, a intolerância, o preconceito e seu profundo ódio de classe contra os trabalhadores e suas expressões políticas. Mauro terminou sua fala referindo-se a um poema de Bertold Brecht que trata exatamente desta questão, quando afirma que não devemos ter ilusões, pois, não importando as boas intenções, na luta de classes a direita fascista quer é nos destruir, como em tantas oportunidades históricas demonstraram e, por isso, temos que estar preparados para nos defender.
           
A extrema direita, descontextualizando e manipulando a fala, tenta criar um factóide no qual defenderíamos um “genocídio”, o “assassinato de todos os que não concordem com o socialismo”, sendo o PCB “uma ameaça a todos os brasileiros”.
           
Não podemos esperar que a direita fascista entenda metáforas e muito menos poemas. Reafirmamos que com estes setores não temos e não queremos diálogo nenhum, porque não temos ilusões: são nossos inimigos e sempre estarão dispostos a usar de todos os meios para nos aniquilar. Em nossa história, nunca foram os comunistas que romperam com a legalidade e interromperam processos democráticos, como em 1964. Pelo contrário, fomos duramente atacados tendo dezenas de nossos dirigentes mortos e desaparecidos pelos órgãos de repressão, assim como centenas e mesmo milhares de militantes presos, torturados e assassinados por estes senhores que posam de ofendidos quando alguém revela sua verdadeira e repugnante face.

É importante lembrar que, sob o manto enganoso do anticomunismo, uma vez estabelecida no Brasil, a ditadura do grande capital, a serviço do imperialismo, atacou indiscriminadamente militantes estudantis, socialistas, cristãos, liberais, democratas e, principalmente, a classe trabalhadora, estabelecendo um regime fundado na corrupção, no terror, na violência e no medo.

Continuaremos nos enfrentando na luta de classes que opõe, de um lado, os que defendem os interesses históricos dos trabalhadores e das massas populares e, de outro, os que se aliam aos interesses da grande burguesia, da qual os direitistas de ontem e de hoje são fiéis serviçais.
           
Não nos intimidaremos. As manifestações raivosas da extrema direita, com ameaças de agressão e morte, de tortura, xingamentos, destilando preconceitos homofóbicos, apenas comprovam de forma cabal o que foi afirmado em nossa análise, ou seja, com a extrema direita não há diálogo.


20 de outubro de 2015


Partido Comunista Brasileiro
Comissão Política Nacional        

16/10/2015

Dica cultural: "O Cavalo de Turin e a crítica ao capitalismo"

*Abaixo a sinopse do filme:

Diretor búlgaro Béla Tarr discute os efeitos das mudanças sociais numa área rural de seu país no final do século XIX e suas consequências para dois solitários camponeses.


O que Nietzsche tem a ver com “O Cavalo de Turim”? Aparentemente nada. Aparentemente tudo. Nada pelo que supostamente teria presenciado o filósofo alemão em O3 de janeiro de 1889 em Turim. Tudo, pois é sua ideia que permeia o filme do cineasta búlgaro Béla Tarr na transição do século XIX para o século XX. Ou seja, Deus deixou o homem entregue à própria sorte. Mas Tarr, a co-autora do argumento Ágnes Hranitzky e o co-roteirista László Krasnahorkai transfiguram sua visão, mostrando o quanto o homem independe de Sua ação. Ele, o homem, engendra os fatos que influenciam sua própria vida.

Embora estas ideias matizem o filme, o que predomina é a percepção do pai (János Derzi) e da filha (Erika Bólk) de que algo muda em torno deles. Esta mutação, simbolizada pelo vento incessante, vai aos poucos mostrando decadência de crenças, de costumes, do meio em que vivem. Ela é perceptível na mudança de comportamento do cavalo, na chegada súbita do vizinho (Mihály Kormos) que faz a ligação do choque sofrido por Nietzsche e a visão filosófica de Tarr, na buliçosa passagem dos ciganos e na perda de suas condições de vida. E sem interferência alguma deles, salvo uma rápida reação, que em nada resulta.

Durante 146 minutos, o espectador fica preso à vida do pai, da filha e do cavalo no campo. Pai e filha vivem do que transportam numa velha carroça. Seu cotidiano é marcado por raras frases e ações repetitivas. Seus bens se restringem ao necessário. A única memória que as filha guarda é da mãe, numa foto. Porém Tarr, como de costume, estrutura o filme de forma a dar sentido às ações submersas. Muitas vezes nada acontece nos entrechos. Mas cada um deles acrescenta um detalhe, que esclarece o todo.

Nas seis partes de “O Cavalo de Turim”, Urso de Prata no Festival de Berlim deste ano, isto é mais que perceptível. Apenas três exemplos: a cisterna que seca, a escuridão súbita, a fome que desaparece. É a metafísica se mesclando ao materialismo. Fatos externos, ação do homem, perda do sustento, logo a sobrepõem. E pai e filha, numa reação ao que lhes acontece, decidem escapar. Esta é a única ação que se impõem, assim mesmo destituída de revolta. Eles não podem nem conseguem mais alhear-se ao que ocorre em seu entorno. Decisões tomadas distantes deles mudam radicalmente sua existência, no entanto quando percebem é tarde.

O pai, que desconfia do que o vizinho diz, só demonstra preocupação quando é atingido pela desagregação. Segundo o vizinho, “ela foi provocada por seres maus, que a tudo dominam, sem interferência de Deus. Os seres bons foram largados, ninguém mais os protege. Tudo, ele diz, está decadente, podre, desmoronando. O fim, decreta, está próximo”. Então, o caos se estabelece. Os próprios ciganos, provocativos, anunciam o mesmo, mas em clima de festa. Estão partindo para outro continente. O pai não consegue captar sinais e verdades: para ele tudo continuará igual, mesmo ruindo à sua volta. É uma boa metáfora para a crise sistêmica-estrutural na União Européia e nos EUA.

Mas é o cavalo, um dos personagens emblemáticos do filme, que melhor traduz as metáforas embutidas em “O Cavalo de Turim”, exibido no Indie – 11ª Mostra de Cinema Mundial de BH. Ele é o terceiro vértice do trio, o que garante a sobrevivência de pai e filha. É, em suma, o cavalo maltratado que tanto indignou Nietzsche. Quando não mais suporta a carga e as ações externas o paralisam, ele passa a merecer atenção do dono e seu comportamento é levado em conta. Não mais sustenta o que restou da família, pode, enfim, descansar, ainda que em meio ao caos. Desnecessário dizer a classe que ele representa.

Pelo que se vê; o filme discute a incapacidade do capitalismo atual de escapar à armadilha por ele criada. Outros dois filmes, de modo adverso, trataram do mesmo tema. Lars von Trier, em “Melancolia”, radicaliza ao propor a extinção do planeta, Terence Malick, em “A Árvore da Vida” (veja na próxima semana), prefere soterrar o criacionismo, apoiando-se no darwinismo. A visão de Tarr é menos provocativa. Prende-se mais à reflexão, à crítica à indiferença, ao comodismo, à ausência de buscas de alternativas. Sem dúvida contundente, mas sem as mesmas repercussões que os dois outros filmes citados.

O cinema reflete desta forma sobre a falta de perspectivas do capitalismo atual. Traduz o que se vê nos movimentos político-sociais no Oriente Médio, na Europa, na América Latina (Chile). Nenhum deles tem o viés político-ideológico. Não põem em cheque o sistema capitalista. Reivindicam apenas reformas pontuais. Mesmo que percebam a crise do neoliberalismo, a falência do Estado burguês, a ensandecida luta do capital financeiro, e não só ele, para não sucumbir, e o esgotamento do próprio capitalismo. Não enxergam, assim, alternativas político-ideológicas ao sistema capitalista. Sem apontá-las, ele terá sobrevida na UTI, onde já se encontra.

*Dica cultural retirada da página do Facebook "Meu Professor de História".

09/10/2015

Alckmin quer fechar escolas, dificultar vida dos professores e superlotar salas.

 TODO APOIO AOS ESTUDANTES, PROFESSORES E COMUNIDADE.
MOBILIZAR OS ALUNOS, PROFESSORES, PAIS E MÃES
CONTRA O DECRETO DE ALCKMIN!


O Comitê Regional do Partido Comunista Brasileiro de São Paulo (CR-SP) vem a público se solidarizar com a luta dos estudantes do ensino fundamental e médio, dos professores e da comunidade contra o decreto arbitrário do governador Geraldo Alckmin que, sob o pretexto de reorganização do ensino, vai fechar cerca de mil escolas, demitir milhares de professores e superlotar mais ainda as salas de aulas.

Com o decreto, o governo tucano aprofunda a crise da educação no Estado, precariza o trabalho dos professores e reduz ainda mais a qualidade do ensino. Além disso, desorganiza a vida de pais e alunos, pois a Secretaria de Educação poderá transferir compulsoriamente os estudantes de uma escola para outra, sem levar em conta os reais interesses dos alunos e da comunidade.

Esta é mais uma ação de arbitrariedade e desmando do governo do PSDB, que nos último 25 anos vem destruindo a educação no Estado de São Paulo para favorecer o ensino privado e a corrupção na administração pública. Enquanto Alckmin fecha escolas, demite professores e precariza o ensino, abre mais presídios para encarcerar a juventude pobre, periférica e negra do Estado.


Diante dessa conjuntura, o Partido Comunista Brasileiro em São Paulo saúda a combatividade dos estudantes, de professores, pais e mães dos alunos e conclama todos a ampliar a mobilização, as assembleias nas escolas, as manifestações de rua e a luta até a vitória contra esse decreto autoritário.


COMITÊ REGIONAL DO PCB DE SÃO PAULO
facebook: https://www.facebook.com/pcbsaopaulo

01/10/2015

Contaminação ideológica pós-moderna da esquerda

Texto do estudante de sociologia Ailton Teodoro que vem jogar luz sobre a atual situação da esquerda no Brasil, ou pelo menos de parte dela, aquela que hoje não se vê mais comprometida com a luta pelo fim da exploração, mas apenas com o aspecto que Ailton bem denomina de "identitarismo burguês". A sua brilhante exposição tem um caráter de crítica, como não poderia deixar de ser, já que vem também em corolário à apreciação anteriormente exposta no vídeo do professor Nildo Ouriques sobre o tom elitista e colonizado do desenvolvimento de parte do pensamento brasileiro restrito às bancas universitárias, universo este que Ailton como estudante da USP habita e bem conhece, o que torna a leitura ainda mais essencial e reveladora. Recomendo vivamente:


Ailton Teodoro*


A contaminação ideológica pós-moderna nos meios de esquerda já passou dos limites. Não escondo de ninguém minhas posições políticas e, portanto, o "camaleonismo" político não têm qualquer lugar na minha forma de encarar a vida. Há quem goste de ficar bem com todo mundo (o camaleão) e há quem aposte na via do conflito e do embate. Este último é flagrantemente o meu caso. Não tenho vocação pra "condottiere"

Deste modo, sem guardar qualquer compromisso com "seu ninguém", mas, antes, com a causa revolucionária do socialismo, tenho o dever militante de repudiar todas as formas de identitarismo burguês de quinta categoria que invadiram, contaminaram e vem deformando sistematicamente a cultura de esquerda com certo vigor desde a virada do século. Identitarismos estes que não têm nada a ver com o feminismo, o anti-racismo, o ecologismo e a luta contra a "opressão das minorias" de extração CLASSISTA (sublinhe-se bem o adjetivo) que tiveram lugar nos movimentos revolucionários do século XX.

Certa vez perguntei a um militante comunista de longa jornada o que ele entendia por ser comunista hoje. Ele, sem pestanejar, respondeu: é defender os trabalhadores e trabalhadoras de qualquer injustiça, independente do lugar de origem, cor, crenças, sexo ou país. É não se calar diante da opressão que incide sobre quem trabalha. É estar do lado da revolução e não da reforma. É lutar contra a desumanização da humanidade produzida pelo capital.

Creio que este sentido original e medular da luta anti-capitalista, isto é, A CONTRADIÇÃO FUNDAMENTAL ENTRE CAPITAL e TRABALHO, perdeu-se no universo dos "marcadores sociais da diferença", de modo a não fazer mais tanto sentido para a militância de certos partidos, organizações e movimentos sociais contemporâneos à esquerda - se é que este termo é válido, pois é completamente legítimo colocar em dúvida a filiação de esquerda de algumas pautas habituadas ao referido identitarismo burguês.

Sei que mediante esta minha nota irão sobrar nomes para me definir. Mas, sinceramente - como se costuma dizer lá em Minas -, eu estou cagando e andando para todos eles. Sei que sou marxista-leninista e isso já me basta. Sei que aderi às ideias de Marx ainda no ensino médio, cursado integralmente em escola pública e gratuita, precedido por 8 anos de ensino fundamental igualmente cursados em escola pública e gratuita. Sei que minhas origens sociais remetem ao proletariado do campo desenraizado na grande metrópole, convertido à força em proletariado urbano. Sei o que é estudar em universidade de elite quando tudo em você rejeita o habitus antipovo do homo academicus (veja que sei falar com pompas ridículas se eu quiser). Sei muito bem o que é "opressão" e não preciso de nenhum vigarista pra me "ensinar" sobre ela.

Não por isso penso que sou o único capaz de falar em nome do proletariado desenraizado que estudou em escola pública e entrou na universidade para conviver diariamente com gente que não conhece 10% da experiência social de gente "da minha laia". Como escreveu o prof. Vladimir Safatle em artigo na folha "Quem tem o direito de falar?"), este subterfúgio, que parece "dar voz aos excluídos e subalternos", a saber, considerar que apenas negros podem falar de negros, mulheres de mulheres, pobres de pobres e assim por diante, na verdade redunda no silenciamento dos próprios excluídos e subalternos, uma vez que nos levam a "acreditar que negros devem apenas falar dos problemas dos negros, que mulheres devem apenas falar dos problemas das mulheres" e tal.

É necessário repudiar e combater ideologicamente a formação de guetos de discurso tanto quanto dos discurso de gueto. Eles podem ser muito interessantes para a onda identitária e para a antropologia (a ciência burguesa do exótico), mas é fato que não levam ao bem comum. O socialismo é a única via, a guerra de classes o caminho e identitarismo burguês certamente não é um aliado...