14/12/2014

A direita e seus malabarismos lógicos

Por Alexandre de Oliveira Périgo

Na fertilizante mentalidade da direita nacional, o raciocínio é: "vagabundo que rouba e mata tem que levar bala mesmo, sem esse papo de direitos humanos".

Porém aí sai o relatório da Comissão da Verdade apontando diversas monstruosidades cometidas pelos militares na ditadura e o que mais vejo essa "gente de bem" escrever é "tem que ouvir o outro lado".

Não é repugnante essa indignação seletiva?

Porque pobre ladrão não possui "outro lado". É ladrão "porque é sangue ruim e folgado" e ponto final.

Já milicos golpistas e torturadores, ah sim, esses devem ser ouvidos com carinho e isenção para que possam explicar direitinho porque é que foram "praticamente obrigados a arrancar algumas unhazinhas" e para contar com detalhes toda a violência cometida pelas pessoas que eles chamam de "terroristas" enquanto na verdade defendiam o Brasil, lutavam pela liberdade e que davam suas vidas para combater o nefasto regime ditatorial.

Riria dessa "gente de bem" não fossem os engulhos que me provocam.

Para refletir: Falência humana no capitalismo

Por Alexandre de Oliveira Périgo

Vejo gente apoiar efusivamente o PM que assassinou o ambulante na Lapa, em Sampa.

Vejo Marina Silva entre risos dizer-se "magrinha" e chamar Dilma de "gorda" numa palestra, como se
isso qualificasse uma e desqualificasse a outra.


Vejo gente dizer que o astrólogo e caçador de ursos Olavo de Carvalho é "filósofo" e "muito invejado pelos esquerdopatas por sua capacidade e conhecimento".


Vejo gente enaltecendo Renato Russo e Cazuza como se Fernando Pessoa e Camões fossem.


Vejo gente criticar os programas sociais do governo federal e não se importar com os lucros imorais dos bancos.


Vejo gente legitimar o extermínio palestino por parte de Israel.


Vejo gente reproduzir notícias sem verificar minimamente suas fontes, simplesmente por ratificarem sua opinião pessoal.


Vejo gente acreditar piamente que um "golpe comunista está em curso" no Brasil.


Vejo gente que é contra o aborto mas que clama pela redução da maioridade penal.


Vejo gente que recrimina o preconceito racial chamando os acusados de tal crime de "viado", "puta" e outras aberrações sexistas e machistas.


Vejo paulistanos ricos reclamarem de ciclovias e pedirem o fechamento de museus.


Vejo Obama ganhar um Nobel da Paz enquanto mata crianças árabes no atacado e no varejo.


Vejo gente dando e tomando tiros no centro de Beagá por causa de um jogo de futebol.


Vejo gente que nunca ouviu falar em Waldir Azevedo dizer que Beyoncé é uma "grande artista".


Vejo gente criticar filósofos e pensadores e que mal sabe escrever seus nomes sem a ajuda do Wikipedia.


Vejo Aécio Neves com lama até as orelhas ter a coragem de falar em "corrupção petista".


Vejo gente defendendo a meritocracia e rindo das piadas de Danilo Gentili.


Vejo religiosidade cega se propagando como fogo em palha seca, com suas divindades fantasiosas usadas como respostas peremptórias e definitivas para tudo.


Vejo gente "revolucionária" preocupada com as mazelas e injustiças humanas de toda ordem e que não dá a mínima para os próprios filhos.


Vejo gente crer de modo pueril que o 11 de Setembro de 2001 foi um "atentado terrorista contra a liberdade e a democracia, arquitetado e orquestrado por árabes infiltrados na América".


Vejo Dilma com um acentuado discurso de esquerda durante a campanha eleitoral que provavelmente já sumiu após sua vitória.


Vejo gente inteligente afogando-se em seus próprios egos.


Vejo ódio por todos os lados e poros; e vejo ignorância camuflada de pseudo-cultura.


É a falência absoluta da atividade cerebral humana.


Absoluta.


Os maias estavam certíssimos: o mundo acabou sim. Só não nos demos, zumbis que somos, conta disso.

13/12/2014

O natal e o capitalismo

 Por Alexandre de Oliveira Périgo

 Guarde bem essa marca de roupas metida a besta: Abercrombie & Fitch.

 Ela simboliza da forma mais emblemática possivel o real espírito natalino.

 Seus proprietários resolveram queimar - literalmente - todas suas peças defeituosas ou encalhadas no estoque em vez de doá-las, como forma de manter a marca "refinada e exclusiva como seus clientes".

 Entre tais clientes "refinados e exclusivos" seguramente estão muitos daqueles que são contra os programas sociais do governo mas que mostram toda sua bondade cristã ao ajudar a ceia natalina dos pobres e desvalidos por acharem que essa gentinha deve comer bem apenas uma vez por ano.


Porque meus amigos, há coisas que foram feitas umas para as outras. Como o natal e o capitalismo.

12/12/2014

PC Siqueira fala sobre Bolsonaro


Leandro Beguoci: "Judiciário: de longe o pior poder da república".


 Eu conheci Leandro Beguoci em um texto que viralizou na internet quando da polêmica dos rolezinhos (Se não leu, leia! Não vai se arrepender! Aqui: rolezinho e a desumanização dos pobres).  De lá pra cá venha sendo arrebatado por sua perspicácia e inteligência tanto em artigos na Galileu quanto na Superinteressante e em veículos variados para os quais escreve.

 Mas a conclusão a seguir é de todas a mais demolidora: "Judiciário: de longe o pior poder da república". E argumenta "O Legislativo ainda é fiscalizado por alguém. O Judiciário concentra muito poder e pouca fiscalização."

 Como não subscrevê-lo?

Ministro palestino é morto por soldados israelenses







Resumen Latinoamericano/Palestina Libre – Um ministro palestino faleceu após um enfrentamento com militares israelenses durante um protesto na Cisjordânia, segundo informou a agencia Reuters, citando testemunhas e médicos.

 Segundo testemunhas, Ziad Abu Ein, chefe da comissão contra o muro e as colônias, foi golpeado em uma discussão com os militares. No entanto, as mídias palestinas informam que um soldado israelense disparou contra o ministro.

 O portal israelense de notícias Ynet informou que Abu Ein recebeu um golpe com a coronha de um fuzil e desmaiou. Pouco depois faleceu em um hospital de Ramallah.

 Segundo um fotógrafo da agência Reuters presente no local, o ministro foi empurrado e espancado por vários militares israelenses. Abu Ein foi transportado posteriormente para Ramallah em uma ambulância. Ahmed Bitawi, diretor do hospital de Ramallah, cidade onde está localizada a sede da Autoridade Palestina, confirmou que Abu Ein recebeu um golpe no peito.

O presidente palestino Mahmud Abbas descreveu o sucedido como “barbaridade” e prometeu adotar as “medidas necessárias” depois de conhecer os resultados da investigação.

link da notícia

[Humor] Partido liberal alemão é exemplo de honestidade.


 O partido liberal alemão é incrivelmente honesto. Duvidam? Olhem só a sigla do partido! Não deixa dúvidas de quem são e o que defendem, ora pois!



Nein zum Hass! Endlich aufstehen!

"In Bayern brennen geplante Flüchtlingsunterkünfte, die Lage eskaliert und folgt dabei augenscheinlich einem Drehbuch. Höchste Zeit zu handeln, fordert das Mitglied im Geschäftsführenden Parteivorstand der LINKEN, Katina Schubert. Sie erklärt"

Heute Nacht brannten in Bayern geplante Unterkünfte für 150 Flüchtlinge, rassistische Schmierereien und Hakenkreuze im Umfeld des Tatortes: Das ist entsetzlich und beschämend!

Die Tat war vorhersehbar und fügt sich regelrecht in ein Drehbuch. Das Klima der Ablehnung, das Flüchtlingen, Migrantinnen und Migranten in diesem Land entgegenschlägt, haben diejenigen mit zu verantworten, die über Jahrzehnte das Asylrecht einschränkten, vor "Asylmissbrauch" und "Armutseinwanderung" warnen und auf Abschreckung statt Willkommenskultur setzen.

Dieses Klima ist es auch, das "Pegida" und ähnliche Gruppierungen ermutigt, ihre menschenverachtenden Positionen laut zu äußern. Jetzt scheint es bis in die Mitte der Gesellschaft hinein legitim, nach Schwächeren zu treten, wie eine Welle wächst die Beteiligung an den Demonstrationen – der Schritt zur nächsten Stufe der Eskalation ist dann nur ein kleiner.

Es wird allerhöchste Zeit aufzuwachen! Diejenigen, die sich nicht in aller Schärfe abgrenzen von "Pegida", ebnen Schlimmerem den Weg. Wer dort weiter mitläuft, macht sich zum Mitläufer menschenverachtenden Denkens und Handelns.

Wir brauchen die Anständigen und wir brauchen die Zuständigen!

Wenn die Innenminister aus Bund und Ländern die Sorgen der "Pegida"-Demonstranten ernst nehmen wollen, führt das in die falsche Richtung, die des Populismus. Jetzt kommt es darauf an, die Sorgen der Flüchtlinge, der Flüchtlingsräte und zivilgesellschaftlichen Initiativen, der Kommunen, der Mitarbeiterinnen und Mitarbeiter in den Erstaufnahmestellen ernst zu nehmen.

Wir brauchen ein deutliches Stopp-Schild und wir brauchen dringend eine Änderung des gesellschaftlichen Klimas. Wir brauchen eine echte Willkommenskultur, statt rassistischer Ressentiments. Flüchtlinge sind willkommen. Rassismus, Antisemitismus und Islamfeindlichkeit dürfen keinen Platz in der Gesellschaft haben.

 By
Katina Schubert - Die Linke

[Humor] Do Constantino, o homem que trabalha na mídia


[Dica musical] Forever Young - Joan Baez

Cuidado com os blogues petistas.

 Em busca de espaços alternativos à grande mídia direitosa, que não raras vezes escamoteia a verdade para apresentar suas versões delirantes que reafirmam seus interesses, como bem tem apontado o jornalista Xico Sá no Twitter depois de ter sido censurado pela Folha, muitas pessoas buscam na internet espaços ditos de esquerda, mais notadamente aqueles blogs alinhados ao Partido dos Trabalhadores, para se informarem a respeito da política e tudo o mais.

 No entanto esses espaços, alinhados ao governismo na maioria das vezes e com pouco compromisso com a verossimilhança dos fatos e fenômenos sociais, têm realizado enorme desserviço entre toda a esquerda. Numa das reuniões últimas que tivemos no PCB vários dos militantes falavam de risco de golpe que a então reeleita presidenta Dilma estaria a sofrer. Os argumentos e as fontes sempre terminavam nos mesmos lugares: Paulo Henrique Amorim, Nassif, Emir Sader e outros.

 Não precisa ser nenhum gênio pra entender que um golpe hoje no país é algo que só mesmo a Direita radical defende - e que é politicamente insignificante, só capaz de fazer um ou outro estrago no legislativo. Todo o grande empresariado, diferentemente do contexto de 1964, rejeita qualquer coisa do gênero. Até porque parte dele está alinhado ao governo petista e ganhando muito bem com isso.

 (Pois bem... ontem conversava com um rapaz do PT e que entendia a nomeação de Levy para a Fazenda como uma tentativa de Dilma de evitar golpe... Sim. Veja só até onde a desinformação pode nos levar...)

 Para além disso, a política de defesa governista está muito distante do que se entende por esquerda. Não é preciso nem lembrar que vários desses espaços atacaram com veemência as manifestações populares que tivemos em Junho do ano passado, mesmo compreendendo e aceitando o fato de ter depois tomado uma orientação conservadora e ter impulsionado o antipetismo. Mas as críticas petistas tal qual foram feitas condenavam não apenas aquilo que de ruim havia, mas também o mais genuíno: a mobilização de um coletivo de esquerda, o MPL, na luta por transporte público de qualidade.

 A postura desses espaços, estigmatizando quem se opõe ao PT e suas políticas, gera ainda uma onda de repúdio e raiva que muitas vezes recai sobre nós da esquerda, sejam comunistas, socialistas, anarquistas e tantos outros que nada temos a ver com isso, sendo pois uma atitude desconstrutiva e pouco saudável para um debate adulto e democrático com quem pensa diferente e até poderia se juntar às nossas fileiras.

 É preciso muito cuidado e senso-crítico com esses espaços. Ou caso contrário tornar-nos-emos tão lunáticos como a extrema-direita olavosa que toma as ruas - e que corretamente é motivo de escárnio. Não é o que desejamos, pois.


Prefeito-celebridade de Berlim sai enfraquecido.

O SPD na Alemanha sofre uma grande perda com a saída de Klaus Wowereit da prefeitura berlinense. Marcada por escândalos nos últimos anos, sua gestão acabou deixando a cidade de Berlim mais elitista, cara, inacessível e desigual. Apesar de ter representado importante passo na luta contra o preconceito, declarando-se homossexual em 2001, o ainda hoje querido prefeito sai enfraquecido e o partido social-democrata perde importante nome que cogitava lançar no futuro para chanceler.

 Mais sobre aqui no Opera Mundi: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/38809/apos+13+anos+no+posto+klaus+wowereit+prefeito+celebridade+de+berlim+deixa+cargo.shtm

Los Comunistas luchan por más derechos!


A esquerda no Brasil às vezes é tão elitista quanto os que combate

(Mudar é preciso) Ao findar do último pleito eleitoral eu ouvi e li muitas reflexões acerca do desempenho devastador do candidato da Direita fascista (e de outros setores mais ou menos alinhados com essa gente) Aécio Neves mesmo em regiões da periferia onde tradicionalmente a esquerda reinou - pelo menos no âmbito eleitoral. Alguns lugares inclusive em que os governos do PT concentraram parte considerável de seus esforços.

 Muitos culpavam a mídia, que de fato sempre foi de Direita e hoje ainda abre muito espaço para um colunismo que namora com a extrema-direita, caso do Reinaldo Azevedo, Pondé, Marco Antonio Villa e outros tantos ideólogos de maior ou menor importância. Ainda se atrele a isso o aparecimento de "humoristas" de classe média que reforçam vários estereótipos conservadores, quase todos no ramo do "stand up" e que têm grande alcance entre jovens - inclusive da periferia - na região do Sul/Sudeste.

 Esse avanço conservador não é outra coisa que não uma atitude de reação em virtude do processo de ampliação do espaço democrático nos últimos anos que, de uma maneira ou de outra, passou a questionar privilégios e, deste modo, obter alguns avanços. Usando do seu principal instrumento, qual seja, a grande mídia, ao qual setores historicamente marginalizados não têm acesso, grupos privilegiados passaram "a se mostrar" sem medo e defender suas pautas, das mais sutis às mais preconceituosas. Algo que o fim da terrível experiência da ditadura civil-militar havia inibido pelo menos publicamente.

 E junte-se a tudo isso o projeto político do lulo-petismo, que busca diminuir a desigualdade e integrar por meio do consumo, reforçando e não desconstruindo a lógica capitalista, individualista, consumista e por isso desumana. E tal processo com a pecha - que a grande mídia desavergonhadamente propagandeia - de esquerda e até, para alguns extremistas supracitados, comunista.

 O PT está tão longe do comunismo como os Estados Unidos da defesa da democracia - não apenas a de consumo.

 Todos esses são fatos verossímeis, mas que não anulam um outro que é perturbador: o elitismo das esquerdas, incluindo aí a revolucionária da qual participo. Viver embates ideológicos dentro de DCEs, núcleos universitários e jornais/panfletos com linguagem inacessível não é o fim que se anseia para quem defende tornar o mundo algo melhor. É preciso ir muito além disso.

 Das muitas coisas que me espantaram ao ter acesso ao ambiente universitário, na FFLCH-USP, foi notar a proeminência do pensamento de esquerda (não imposto, como alguns paquidermes afirmam). Mas todo esse ambiente auspicioso sem dialogar nem mesmo com o entorno da universidade, muito menos com o que está para além dela - um verdadeiro disparate!

 Como sujeitos integrados ao mundo, não podemos terceirizar a responsabilidade que temos sobre ele! É mais do que necessário ir à periferia, estar nela, fomentar a organização nos bairros, lutar contra o processo de curralização evangélica desses espaços, incentivar a participação política e dar prioridade aos que mais necessitam.

 Agir nesse sentido é o primeiro passo rumo a ter novamente algum poder para propor mudanças reais na sociedade. Qualquer coisa no sentido contrário, no do encastelamento, apenas fará da esquerda, seja ela qual for, uma dessas denominações acadêmicas inoperantes e insignificantes.

 Não há relevância se apartado do povo. É preciso estar junto a ele. Sempre!

11/12/2014

[Humor] Retrospectiva do Golpe Comunista 2014


[Humor] Da série "Malafaia, o apologeta-anal"


Correio da Cidadania: Obama alimenta no G-20 a nova Guerra Fria


A reunião do Grupo dos 20, isto é, os 19 países mais industrializados e emergentes do mundo (1) e a União Europeia, que se realizou nos dias 15 e 16 de novembro na cidade australiana de Brisbane, não se limitou em debater as questões que deveriam contribuir na manutenção da estabilidade financeira no mundo e no consequente monitoramento do crescimento da economia global. Na realidade, esta reunião serviu para transformar o G-20 em um novo conselho permanente internacional bicéfalo, onde uma “cabeça” reúne os ministros das finanças e respectivos chefes dos bancos centrais para implementar os principais objetivos da política neoliberal, notoriamente: a eliminação das restrições legais e fiscais para o movimento dos capitais; a implementação dos processos de desregulamentação e de flexibilização no mercado de trabalho; a realização constante dos processos de privatização; a progressiva liberalização do comércio global através das negociações no âmbito da OMC e, sobretudo, com acordos comerciais bilaterais.

 A segunda “cabeça” reuniu apenas 12 chefes de Estados e respectivos ministros das relações exteriores (EUA, Canadá, Reino Unido, Alemanha, Austrália, Japão, Coréia do Sul, Indonésia, França, Itália, Turquia e México) para debater a evolução política nos países industrializados e emergentes e os elementos geoestratégicos que podem provocar a ruptura do atual “status quo”. Foi nesse âmbito que ao enfocar o debate sobre a crise na Síria, na Ucrânia, na Líbia e no Iraque o presidente Obama, com a ajuda da alemã Ângela Merkel, conseguiu introduzir no G-20 um clima de moderna guerra fria para penitenciar a Rússia de Vladimir Putin. Depois, com o suporte do primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, o presidente dos EUA conseguiu reafirmar o papel estratégico dos EUA na complexa gestão dos equilíbrios políticos na região Ásia/Pacífico, repropondo um “Pivot to Ásia nº2”, para minimizar o papel geoestratégico da China.

Mascara ambiental e crescimento simbólico

 É necessário lembrar que na véspera do G-20 o governo dos EUA e em particular o presidente Barack Obama estavam bastante fragilizados por três questões: a) não ter pacificado ou pelo menos mantido sob controle os principais focos de insurgência islâmica no Oriente Médio e na África; b) não ter conseguido convencer a Rússia em deixar de sustentar os separatistas ucranianos; c) ter perdido a maioria no Senado que, durante estes anos, foi o elo de sustentação do seu governo.
Portanto, as excelências da Casa Branca resolveram transformar esse G-20 em um palanque político para recuperar a confiança dos eleitores estadunidenses, além de mandar uma clara mensagem aos opositores republicanos, lembrando-lhes que faltam ainda dois anos ao fim do mandato de Obama.
Assim, antes da realização do G-20, a questão ambiental se tornou o principal argumento político do presidente, Barack Obama que, uma semana antes de desembarcar em Brisbane, viajou até Pequim para assinar com o seu homologo chinês, Xi Jinping, um vago acordo bilateral, que pretende promover até 2030 a redução das emissões de Co2 (dióxido de carbono), uma vez que a China é recordista mundial no consumo de Co2 com 9.900 toneladas, contra as 6.826 dos EUA.
Na prática, esse acordo, juntamente à questão da epidemia do ebola, foi o gancho para desviar a atenção da opinião pública mundial, enquanto os elementos bicéfalos do G-20 realizavam suas manobras políticas. Por exemplo, no momento em que Obama atualizava o projeto geoestratégico “Pivot to Ásia nº2” para conter e até delimitar o expansionismo econômico e estratégico da China com o reforço da ASEAN, a introdução de um novo código de conduta nas disputas territoriais e marítimas, além de convidar a Índia para atuar com mais força na região Ásia/Pacífico, o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, declarava que o Japão e os EUA destinavam 4,5 bilhões de dólares ao Green Climate Fund, que as Nações Unidas haviam criado para ajudar os países mais pobres na luta contra os efeitos nefastos da poluição atmosférica.

 No mesmo tempo, os ministros das finanças presentes nesse G-20 finalizavam um “pacote para o crescimento econômico” com 800 medidas que, em 2018, devem permitir o aumento de 2,1% do PIB dos países do G-20. Algo que, segundo os ministros do G-20, deverá permitir à economia mundial produzir 2 trilhões de dólares a mais, gerando empregos em todos os lugares do mundo.
Os analistas mais criteriosos admitiram que a maior parte das 800 medidas do G-20 é uma verdadeira “lista de desejos” que todos os governos ocidentais submetem os seus povos antes das eleições. De fato, elas já existem, porém se tornam irrealizáveis por causa da complexidade do modelo neoliberal e sobretudo pela diferenças entre as estruturas econômicas dos países industrializados. Argumentos, perfeitamente conhecidos nas chancelarias do Ocidente, que a grande mídia, para corresponder às orientações da Casa Branca, apresentou como “condição sine qua non” que salvará a humanidade da crise.

 Isolar a China?

 Em 2001, os analistas do Pentágono prognosticavam que em 2015 os Estados Unidos estariam em condições de impor, definitivamente, seu poderio militar à China, o que, em teoria, poderia promover inúmeras mudanças de ordem geoestratégica na região Ásia/Pacifico. Porém, essa meta ficou desatualizada em função do progresso alcançado pela indústria militar chinesa, de forma que os estrategistas do Pentágono enviaram para a Casa Branca um outro relatório, em que se afirma que somente em 2030 os EUA poderão impor um controle estratégico efetivo sobre a China.
Por isso, a Comissão “US-China Economic and Security Review Commission”, em outubro desse ano, denunciava no Congresso o aumento do orçamento militar chinês em 131 bilhões de dólares e a multiplicação das bases militares no interior da China. Esquecendo que os EUA gastam cerca de 1 trilhão bilhões de dólares em despesas militares (incluindo os fundos extras e os secretos) e que a presença militar dos EUA no mundo se mantêm ativa em 576 bases militares (sem considerar as que são colocadas a disposição pelos “aliados”). Apesar disso, a referida Comissão recomendava ao Congresso de “aumentar as verbas para a despesa militar de forma que os EUA poderão reforçar sua presença militar na região Ásia/Pacifico e, assim, contrabalancear as crescentes capacidades militares da China”.

 A grande mídia não divulgou que Obama concordou com os programas do Pentágono que, até 2020, prevê concentrar no Pacífico 60% dos navios da Marinha (U.S. Navy), multiplicando, assim, o potencial bélico do Comando do Pacífico que, atualmente dispõe de 360.000 soldados, 200 navios e 1500 jatos de guerra entre bombardeiros e caças.

 No relatório do Pentágono se pede, também, à Casa Branca promover nos países membros do ASEAN uma política mais dinâmica, para evitar que o aumento da presença militar dos EUA na região Ásia/Pacifico seja criticada, alimentando as reações nacionalistas e anti-estadunidenses.
Consequentemente, Obama, transformou as críticas da Comissão “US-China Economic and Security Review Commission” em agenda de trabalho para o G-20. Por isso tudo, o presidente dos EUA estimulou o governo da Índia em fazer sentir sua voz (militar) na região Ásia/Pacífico, sabendo que entre a China e a Índia – apesar de estarem juntos nos BRICs — há profundas divergências sobre as definições territoriais nas regiões da cordilheira do Himalaia.

 A reformulação do programa “Pivot to Ásia nº2” e a questão ambiental foram apresentadas pela grande mídia como um extraordinário sucesso político e diplomático do presidente Barack Obama, que desta forma conseguiu recuperar parte da popularidade que perdeu recentemente.
Porém, esse cenário feliz logo mudou quando o ministro da Energia da Índia, Piyush Goyal declarou: “as necessidades do desenvolvimento industrial da Índia não podem ser sacrificadas no altar de uma potencial mudança climática que irá a acontecer daqui a muitos anos. O Ocidente deverá reconhecer que somos nós, e não eles, que devemos dar uma resposta às necessidades da pobreza. Por isso a Índia passara a aumentar a extração do carvão de 565 milhões de toneladas para 1 bilhão em 2019”.

 As declarações do ministro Piyush Goyal tiveram um imediato efeito negativo, desmanchando a máscara ambiental que Obama havia construído em Brisbane durante a reunião dos G-20. De fato, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, não desmentiu seu ministro da Energia, pelo contrário, sublinhou que o governo indiano realizará, apenas, alguns projetos com centrais eólicas e solares, dando mais atenção e financiamento à extração do carvão. Declarações que frustraram as manobras da Casa Branca e a retomada da popularidade de Obama, do momento que o carvão é o principal responsável da poluição atmosférica.

 A queda de popularidade de Obama se tornou efetiva quando a Casa Branca e a “grande mídia” se deram conta que o presidente chinês, Xi Jinping, logo após o G20, devolveu a Barack Obama o golpe do “Pivot to Ásia nº2”, assinando um importante acordo comercial com a Austrália, que, em termos políticos, vai enfraquecer a ASEAN e, consequentemente, a estratégia dos EUA na região Ásia/Pacífico.

 De fato, sem ninguém perceber, o primeiro ministro australiano, Tony Abbott, se reuniu com o homologo chinês, Xi Jinping, para assinar uma declaração comum para implementar, em 2015, um acordo de livre troca comercial (Free Trade Agreement – FTA), entre a China e a Austrália. Um acordo que deverá eliminar em 95% as barreiras alfandegárias dos produtos australianos destinados à China, dando facilitações não indiferentes aos investimentos chineses na Austrália. Desta forma as trocas comerciais entre os dois países deverão passar dos atuais 150 bilhões de dólares para 300. Valores que devem enterrar o aspecto econômico do Trans-Pacific Partnership - TPP idealizado pelos EUA e que, na realidade era o instrumento econômico para a afirmação do programa “Pivot to Asianº2”, com o qual Obama pretende obrigar os países da região Ásia/Pacifico em aceitar o aumento da presencia militar dos EUA.

Nova guerra fria contra a Rússia

 Para o presidente dos EUA, Barack Obama, e a primeira-ministra da Alemanha, Ângela Merkel, era de fundamental importância política poder romper com Putin de forma estrondosa, captando a atenção da “grande mídia” ocidental e asiática e assim poder denunciar a rebelião no leste da Ucrânia como artimanha da própria Rússia. Foi nesse âmbito que as excelências da Casa Branca transformaram o G-20 em um palanque onde o presidente Obama apareceu para promover o lançamento de uma moderna “guerra fria”, que antes de chegar a ameaçar a Rússia com represálias militares, como nos tempos de Ronald Reagan, vai utilizar os meandros das relações diplomáticas bilaterais e regionais e, sobretudo, as chantagens financeiras para dobrar o adversário.

 Com seu show no G-20, Obama conseguiu demonstrar à maioria republicana do Congresso que não vai perdoar nada a Putin, reafirmando o “Conceito Estratégico da Aliança Atlântica (OTAN) para o século XXI”, que foi elaborado, em 1999, por Madeleine Albright (ex-Secretária de Estado no governo de Bill Clinton), apresentado o relatório programático “OTAN 2020: Segurança Assegurada; Compromisso Dinâmico”.

 Por outro lado, Obama garantiu à maioria republicana do Congresso que não massacrará os contribuintes com novos impostos para financiar o rearmamento do Pentágono. Motivo pelo qual a Casa Branca vai repassar aos aliados europeus os encargos financeiros do rearmamento da “frente oriental da OTAN”, dando assim um impulso duplo à identidade estratégica da OTAN que, desta forma, assume o papel de “trait d’union dans la politique strategique” (linha de unificação na política estratégica).

 Um papel que os generais de Bruxelas - bem monitorados pelos oficiais superiores do Pentágono - estão cumprindo perfeitamente, explorando as ameaças do expansionismo russo. Um contexto alarmista que contribui em manter unidos os países da União Europeia, em um momento de crise aguda, onde as temáticas econômicas e financeiras ditadas pela Alemanha e o BCE são consideradas imposições autoritárias e recessivas que contrariam o crescimento econômico.

 De fato, a maior parte dos analistas da “grande imprensa” silencia a evolução dessa nova guerra fria que o Pentágono e a Casa Branca estão construindo com a ampliação nos países europeus do Programa de Defesa de Mísseis Balísticos em Teatro Ativo (Active Layered Theatre Ballistic Missile Defence Programme) e do Sistema Integrado de Defesa Aérea a Meio Alcance (Medium Extended Air Defense System – MEADS), que foi planejado já em 2009 para ser instalado nos EUA, na Alemanha e na Itália com o objetivo de garantir o funcionamento de uma “estrutura defensiva de mísseis dos EUA por toda a Europa e o Oriente Médio”. Além disso, o Pentágono e os chamados “democratas” da Casa Branca concordaram em manter nas bases aéreas da Bélgica, da Alemanha, da Itália, dos Países Baixos e da Turquia pelo menos 200 bombas nucleares.

 Porém, o elemento mais devassante dessa “moderna guerra fria” é a subordinação da OTAN aos sistemas estadunidenses de mísseis e a chamada “ciberguerra” com a qual o Pentágono e a OTAN fingem proteger toda a Europa de possíveis ataques da Rússia, para transferir suas unidades militares e suas infraestruturas de espionagem eletrônica ao longo da fronteira ocidental russa, isto é, do Mar Báltico até o Mar Negro.

 Nesse âmbito, o Pentágono conseguiu instalar bases militares permanentes (aéreas, terrestres e para lançamento de mísseis) nos territórios da Polônia, da Lituânia, da Hungria, da Bulgária, da Romênia e logicamente no Kosovo, o pseudo-Estado criado pelos EUA após os ataques que provocaram a desintegração da Federação Iugoslava. Além disso, a CIA está continuando a construção dos chamados “sítios negros” em diferentes territórios dos países europeus ligados à OTAN para armazenar bombas nucleares estadunidenses. Apesar das negações dos governos locais, sabe-se que a CIA e o Pentágono já transferiram os artefatos nucleares para a base de Siauliai na Lituânia, de Amari na Estônia, de Swidwin na Polônia, de Mihail Kogalniceanu na Romênia e de Graf Ignatievo e Bezmer na Bulgária e sabe-se lá onde mais!

 Se depois consideramos que, desde 2012, os caças F-15 Eagle dos EUA, estacionados na base aérea de Siauliai, na Lituânia, patrulham diariamente o espaço aéreo ao longo do litoral russo no Mar Báltico, enquanto no nordeste da Polônia, também em frente à fronteira com a Rússia, o governo polonês autorizou a instalação de três baterias de mísseis antibalísticos dos EUA (Patriot Advanced Capability) e que a Ucrânia devia ser transformada na principal fortaleza da OTAN no Leste europeu, se entende porque a Rússia apoiou primeiro o movimento separatista na Criméia e depois a rebelião no leste da Ucrânia, onde as populações, ainda por cima, são todas russófilas.

 Assim, depois de ter articulado o isolamento da China nesse G-20, Obama, com a ajuda da Merkel, conseguiu congelar a presença de Putin em Brisbane, sem, porém, ter obtido dele uma mínima flexão, tanto que após ter conversado duramente com Ângela Merkel optou voltar para Moscou. Diante disso, a crise ucraniana permanece tal e qual era antes do G-20, com um silencioso “status quo” que, de certa forma, legitima a existência política do movimento separatista e a real impossibilidade por parte do governo de Kiev de derrotá-lo do ponto de vista militar, ou de desfazê-lo, introduzindo tardias medidas federativas.

Notas:
(1) União Europeia; Grupo 1: Austrália, Canadá., Arábia Saudita, Estado Unidos; Grupo 2: Índia, Rússia, África do Sul, Turquia; Grupo 3: Argentina, Brasil, México; Grupo 4: França, Alemanha, Itália, Reino Unido; Grupo 5: China, Indonésia, Japão, Coreia do Sul.

Achille Lollo é jornalista italiano, correspondente do Brasil de Fato na Itália, editor do programa TV “Quadrante Informativo” e colunista do "Correio da Cidadania"

A publicação deste texto é livre, desde que citada a fonte e o endereço eletrônico da página do Correio da Cidadania.

PCB: Abanando os céus em Ferguson, Missouri

Vamos abanar o céu”, disse-me um jovem, enquanto enfrentava a polícia antimotim. Esse fogo, esse compromisso inextinguível, e não os edifícios em chamas, é o que mais deveriam temer aqueles que se beneficiam da injustiça.


 “Enquanto se continuar a adiar a justiça, estaremos sempre à beira destas noites escuras de distúrbios sociais”. Martin Luther King Jr. dizia isto num discurso pronunciado a 14 de março de 1968, apenas três semanas antes de ser assassinado.

 O assassinato de Michael Brown em agosto continua a provocar ondas de choque em Ferguson, Missouri e mais além. Na noite da segunda-feira 24 de novembro, o anúncio do promotor do condado de Saint Louis Robert McCulloch de que não apresentaria acusação criminal contra Darren Wilson, o policial que matou Michael Brown, desencadeou uma noite de distúrbios. Por algum motivo incompreensível, McCulloch atrasou a revelação da decisão do grande júri até ao anoitecer. A conferência de imprensa do promotor indignou profundamente muitas pessoas, já que McCulloch defendeu energicamente as ações de Darren Wilson e atacou o carácter da vítima, Michael Brown.
Pouco depois do anúncio de McCulloch, Ferguson entrou em erupção. Foram incendiados edifícios, que arderam por completo. Viram-se carros envoltos em chamas. A polícia antimotim reprimiu violentamente os manifestantes e, fazendo caso omisso das tão apregoadas “regras de compromisso” acordadas com os organizadores do protesto, lançou gases lacrimogéneos aos residentes indignados. Ao longo da noite também soaram alguns disparos de armas de fogo.

 “A vida dos negros não importa”, disse um jovem que participou do protesto em Ferguson, na noite gelada de segunda-feira. Perto dali, o gás lacrimogéneo misturava-se com o fumo nocivo dos grandes incêndios. Outra manifestante, Katrina Redmon, explicou a sua frustração com a decisão de não acusar Darren Wilson: “Ele matou um adolescente negro desarmado. Não há desculpa para isso. Um homem foi assassinado e ninguém paga por isso... queremos respostas. Porque parece que a única maneira de escapar ao castigo por assassinato é ter um distintivo da polícia”.

 Entrevistei alguns manifestantes em frente à esquadra da polícia em Ferguson, que estava rodeada de polícias antimotim. Não estávamos muito longe do lugar onde mataram Michael Brown, que recebeu pelo menos seis disparos de Darren Wilson, e onde o seu cadáver foi deixado na rua, de bruços e a sangrar, durante mais de quatro horas sob o sol ardente de agosto enquanto os seus amigos e vizinhos contemplavam a cena horrorizados. Quando aumentaram os protestos após a morte de Brown, as polícias estadual e local usaram um conjunto surpreendente de equipamentos e armas militares, o que mostra como o Pentágono tem estado a repartir silenciosamente o arsenal de guerra excedente do Iraque e do Afeganistão por milhares de cidades e populações de todo o país. Desde os atentados de 11 de setembro de 2001 foi transferido armamento deste tipo num valor de mais de cinco mil milhões de dólares. Os Estados Unidos têm agora uma força militar de ocupação: a polícia.

 A polícia antimotim e a Guarda Nacional isolaram os bairros brancos de Ferguson, enquanto o lado negro da cidade, ao longo da West Florissant Avenue, estava em chamas. Ali quase não havia policiais. O governador do Missouri, Jay Nixon, declarou o estado de emergência na semana anterior à da decisão do grande júri; no entanto, os efetivos da Guarda Nacional que foram destacados não se encontravam em nenhum local desta parte da cidade. Uma dezena de empresas ficou em chamas. Por que ficou desprotegida a zona de West Florissant Avenue? As autoridades deixaram que Ferguson ardesse?

 No seu discurso de 1968, “A outra América”, o Dr. King falou do receio de um iminente verão de distúrbios como os que açoitaram, em 1967, Newark, Nova Jersey, Detroit e outras cidades do interior. King disse:

“Não basta que eu esta noite me apresente perante vós e condene os distúrbios. Fazê-lo seria moralmente irresponsável sem condenar ao mesmo tempo as condições intoleráveis que existem na nossa sociedade. Estas condições são o que leva as pessoas a sentir que não têm outra alternativa do que participar em rebeliões violentas para chamar a atenção. E tenho que dizer esta noite que o motim é a linguagem de quem não é escutado”.

 Os não escutados de hoje, os cidadãos de Ferguson que estão nas ruas há mais de cem dias, não foram quem iniciou o incêndio. Eles exigiam justiça. As massivas manifestações de solidariedade realizadas por todo o país e pelo mundo estão a ampliar as suas reivindicações, a vincular as lutas, a construir um movimento de massas.
 "Vamos abanar o céu”, disse-me um jovem, enquanto enfrentava a polícia antimotim. Podia ver-se o seu alento no ar gelado dessa noite. Estava a tremer de frio, mas não fugia. Esse fogo, esse compromisso inextinguível, e não os edifícios em chamas, é o que mais deveriam temer aqueles que beneficiam da injustiça.

Artigo publicado em Truthdig em 26 de novembro de 2014. Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna. Texto em inglês traduzido por Inés Coira para espanhol para Democracy Now. Tradução para português de Carlos Santos para Esquerda.net

Amy Goodman é co-fundadora da rádio Democracy Now, jornalista norte-americana e escritora.

Bolsonaro e "ativistas pela ditadura" são a linha de frente do fascismo

 Comentário de Bob Fernandes (@Bob_Fernandes) no Jornal da Gazeta.


[Humor] Olha o que o tio Adolf trouxe pra você...


Futebol é o lugar no qual é permitido voltar a ser criança.

 A infância é um momento bonito da vida porque permite-nos fugir da realidade sem tanto compromisso com o concreto, já que não há nessa fase da vida as responsabilidades implícitas à fase adulta em suas consequências e sanções - muitas vezes bem dolorosas, diga-se. E a maioria de nós passa a amar o futebol neste período, carregando dessa paixão incontida aspectos simbólicos que nos permearão por todo o sempre.

 Recordo-me por exemplo que quando pequeninho, lá pelos 6, 7 anos, achava que o Palmeiras assim se chamava por conta de Palmares. Palmares pra mim era uma ilha com muitas Palmeiras. E de gente chata. Acreditava que o Brasil era o nome de um jogador que atuava com uma camisa amarela e calções azuis. Toda vez que o narrador falava "aí vem o Brasil", eu corria pra frente da tevê pra ver quem era esse "Brasil" de quem tanto falavam e pra quem eu torcia sabia-se lá o porquê.

 Eu também morria de medo do futebol da Inglaterra, da Argentina da Alemanha. Não pelos times que tinham à época (duas grandes seleções), mas pelos nomes, imponentes que são. Passei a torcer pelo Corinthians porque era, afinal, um nome imponente apesar do meu tio, que torcia para esse time. Importante notar meu primeiro sinal de emancipação, aqui: o motivo era o nome, não a óbvia influência familiar. Que criança arrogante!

 Quando o Corinthians perdeu o campeonato Paulista em 98 para o São Paulo, eu chorei pela primeira vez na vida por causa de futebol. Quando o Brasil perdeu para a Noruega, na Copa do Mundo, voltei a chorar, achando eu que aquilo seria o final do mundo, mesmo sendo apenas um jogo da primeira fase na qual o time se encontrava classificado. Quando perdeu a final para a França, não chorei, apesar da imensa tristeza. Com 7 anos eu já havia aprendido por meio do futebol que não se pode ter tudo. E achei que nunca mais choraria.

 Oito anos mais tarde, em 2006, com 15 anos, num fatídico 3 a 1 para o River Plate em pleno Pacaembu que eliminou o Timão da libertadores, voltei a cair em prantos. Chorei tanto que não consegui ir à escola no dia seguinte. Meu mundo tinha desabado.

 Durante a Copa do Mundo daquele ano, na Alemanha, eu tinha certeza de que o Brasil seria uma vez mais campeão. Não foi. E o time que eu menos queria que ganhasse, a Alemanha, o país daquele "dick vigarista" do Schumacher, não ganhou a Copa, mas levou mais que isso: o meu coração. Dali em diante surgiu uma empatia enorme com aquela seleção, jogadores e povo. A primeira palavra em alemão que aprendi foi "tor". Gol. A segunda foi "Schrei", um grito desesperado. O grito que se abateu sobre Dortmund depois dos malfadados tentos da Itália na prorrogação da semi-final.

 Seis meses depois, puto com administração putrefata e os desmandos no Parque São Jorge, jurei pra mim que odiaria o Corinthians pra sempre, renegando inclusive este passado. Mas não só ele: todos os outros da capital, que com aquela empáfia típica paulistana se achavam melhores que os demais do país. Mesmo assim, porém, não consegui celebrar a queda corintiana em 2007 como o fiz com o Palmeiras em 2003 e em 2012.

 Ano passado, odiei imensamente o uniforme novo da Nationalmannschaft, a seleção alemã, abdicando dos seus tradicionais shorts pretos que com aquela camisa branca sempre me pareceu a combinação mais linda possível para uma equipe de futebol.

 Será por que, hein?

 Hoje meu coração é bávaro, apesar do Bayern se parecer mais com o São Paulo do que com o Corinthians, sendo o tricolor do Morumbi (!) o clube que mais odiei. Mas como dizem, o contrário de amor não é ódio - é sim a indiferença! Encontrei no futebol alemão, apesar da distância e suposta frieza, o sentimento íntimo mais pueril, o desejo da vitória daquele por quem nos simpatizamos, mas não só: está ele consubstanciado com as necessidades que a vida adulta nos impõe, como responsabilidade e organização. Estou feliz com isso, com a escolha feita.

 Mas não fico muito feliz quando pessoas desdenham de quem gosta do ludopédio afirmando que é algo superficial, infantil e bobo onde 22 milionários correm atrás de uma bola. É uma visão mesquinha da coisa. Futebol é mais do que isso: é aquele monte de simbologias e primeiras impressões que carregamos conosco e atribuímos a alguém, sendo por isso de todas as invenções humanas não apenas a mais apaixonante, mas também uma das mais importantes individual e coletivamente, afinal gostar de futebol é muito mais que ser admirador de uma modalidade esportiva, é em suma poder durante 90 minutos voltar a ser aquilo que nunca mais seremos novamente: uma criança. Uma serelepe criança.

[Humor]


[Dica cultural] Cinema em Cena: o melhor do ramo.

 Para quem está em Marte e não conhece o site Cinema em Cena, fica a dica, pois trata-se do mais completo no que diz respeito à cobertura do cinema e conteúdo crítico. Ele é administrado pelo excelente Pablo Villaça.

 O link está aqui: Cinema em Cena

 E se você tem disponibilidade financeira de ajudar o site, que é autônomo e sobrevive à base da valentia dos seus colaboradores, não se furte a fazê-lo. Aqui explica como:

 http://www.cinemaemcena.com.br/plus/modulos/noticias/ler.php?cdnoticia=54018

 
 

Nota em repúdio ao ataque sofrido pelo PSOL



   Nós, comunistas, somos historicamente opositores da ideologia representada pela suástica nazista e não poderíamos deixar de nos solidarizar com os companheiros do PSOL, repudiando veementemente o vil ataque sofrido pelo partido, em sua sede.
  O país atravessa um momento de acirramento da luta política e  está clara uma polarização que coloca, de um lado, os trabalhadores e defensores de avanços que possam culminar com uma sociedade mais justa, e de outro, aqueles que defendem os privilégios das classes dominantes. Não acreditamos que estejamos lidando propriamente com defensores do Nazismo e de sua ideologia. O que torna tudo mais triste e patético. Pessoas ligadas à classe dominante, diante do crescimento de organizações que se posicionam a favor dos trabalhadores, valem-se desse símbolo sinistro, com o intuito de trazer uma memória de violência, de opressão e de barbárie.

  As últimas eleições, e seus desdobramentos, fizeram com que muitas máscaras caíssem. Há, entre nós, infelizmente, aqueles que ainda relutam em ver que as classes dominantes sugam as forças de nossos trabalhadores, desde sempre, e se locupletam com as riquezas de nosso país, em detrimento da justiça social, perderem os seus privilégios históricos. O ataque sofrido pelos companheiros do PSOL é prova inconteste de que essas forças estão organizadas e têm, como sempre tiveram, o viés da violência.

  O Socialismo prega a paz, enquanto valor a ser alcançado, com uma sociedade sem classes, sem cobiça, sem ganância. Muitos chamam esse sonho de utopia. Entendemos que utópico é viver em um mundo dividido entre aqueles (poucos) que têm muito e muitos que não têm nada e ainda conceber essa sociedade como justa. Os famintos e segregados sempre foram alijados em seu direito a ter voz e espaço, mas nunca deixaram de lutar. Nossas armas são a organização, o idealismo, a força e a ação política. Lutamos de forma clara e sem subterfúgios que denotem a falta de aceitação das regras. Se o que temos é uma estrutura de poder baseada nas eleições e na “democracia” burguesa, lançamos candidatos, defendemos nossos pontos de vista e nos organizamos. Sempre dentro das regras preestabelecidas. Se o cenário for outro, um dia, estaremos prontos para a luta, honrando aqueles que não fugiram de suas obrigações, como revolucionários. Mas não somos covardes! Não fazemos ameaças veladas, anônimas, espúrias. Não nos escondemos nas sombras da noite, para ameaçar quem quer que seja e não admitimos que companheiros de luta valorosos sejam ameaçados.

  O PSOL tem uma história recente, mas de muito valor, na luta pelo socialismo. A sigla traz Socialismo e Liberdade como bandeiras. Nós, do PCB, lutaremos com todas as armas das quais dispusermos, para que essas bandeiras, que também são nossas, por serem de todos os progressistas, não sejam atacadas por aqueles que defendem o obscurantismo.

  Há uma espécie de transe coletivo, controlando a mídia e setores organizados das classes dominantes, clamando por “intervenção militar”, “ditadura”, “golpe” e outras aberrações. Esse ataque é um exemplo de que o perigo existe. Mas eles não ficarão sem resposta.

  Que todos os trabalhadores estejam unidos, para que possamos combater, sem trégua, quaisquer ataques à liberdade e à nossa luta por Justiça, Pão e Paz.


  Saudações socialistas.

           
  PCB - Partido Comunista Brasileiro - Base de São José do Rio Preto



São José do Rio Preto, 7 de dezembro de 2014

O PCB e a Reforma Política



11 DEZEMBRO 2014

CLASSIFICADO EM
 PCB - NOTAS POLÍTICAS DO PCB

(Nota Política do PCB)

 Encerradas as eleições de 2014 e findo o espetáculo da democracia burguesa, a vida real retornou drasticamente para a imensa maioria da população após mais um processo de cartas marcadas em que a polarização entre as candidaturas presidenciais que disputaram o segundo turno se deu através de um dos mais pobres debates políticos dos últimos tempos, em que predominaram os ataques pessoais e promessas ligadas a diferentes formas de administrar o país dentro da lógica da expansão capitalista e dos interesses das grandes empresas, principais financiadoras das campanhas das coligações mais poderosas. A vitória apertada da candidata do PT-PMDB, evidencia o desgaste dos governos petistas, que, no fundamental, não alteraram as políticas econômicas neoliberais e tornaram-se reféns do presidencialismo de coalizão para garantir a governabilidade a qualquer preço, por meio de acordos com os partidos fisiológicos, cujo preço é o abandono das reformas sociais mais elementares.

As primeiras medidas adotadas pelo governo Dilma após a reeleição confirmam os prognósticos feitos pelo PCB, cuja opção pelo voto nulo no segundo turno estava inserida na percepção segundo a qual a classe trabalhadora já havia sido derrotada nas eleições e deveria continuar em luta qualquer que fosse o presidente saído das urnas. A decretação de nova elevação da taxa de juros, a indicação de um representante do capital financeiro para Ministro da Fazenda e de outros nomes ligados à alta burguesia para cargos ministeriais, o anúncio de cortes de gastos públicos (que na certa recairão sobre programas sociais), repetindo a velha fórmula neoliberal para tentar barrar a inflação, dentre outras, são iniciativas voltadas a “tranquilizar” os banqueiros e capitalistas, na contramão do discurso “mais à esquerda” adotado na campanha do segundo turno para canalizar votos dos setores mais progressistas na direção do PT.

Agora também reaparece com mais força o tema da reforma política, como se fosse uma tábua de salvação para superar o desgaste político acumulado pelo PT nesses últimos tempos e tornado mais visível desde junho de 2013, quando o grito das ruas apontou o descontentamento popular com os péssimos serviços públicos, a piora das condições de vida nas cidades, a corrupção nos meios políticos. Nenhuma reforma fundamental foi anunciada de lá pra cá, a não ser o decreto governamental da Lei e da Ordem, institucionalizando a repressão e a criminalização dos movimentos sociais e o projeto que versava sobre a “Política Nacional de Participação Social”, o chamado Decreto dos Conselhos, que, em tese, instituiria a consulta a conselhos populares por órgãos do governo antes de decisões sobre a implementação de políticas públicas. Este decreto foi derrubado pela Câmara dos Deputados logo após o resultado do segundo turno, por representantes dos partidos burgueses, inclusive a base conservadora de apoio ao governo Dilma.

Não se promove a participação popular com vistas a tomadas de decisões no âmbito do poder político por decreto, muito menos quando o projeto amarra a formação dos “conselhos populares” a fóruns e organizações cujas representações seriam escolhidas a dedo pelo próprio governo, indicando que a tal anunciada democratização na definição de políticas públicas não passaria de uma tentativa de atrelamento dos movimentos sociais às ações governamentais. A derrubada deste projeto na Câmara indica claramente a postura extremamente conservadora dos parlamentares, que irá piorar, em virtude do resultado das eleições deste ano, fazendo aumentar as bancadas dos representantes do agronegócio, dos lobistas, da pistolagem, do fanatismo religioso e da ultradireita.

A reforma política aventada pelo governo Dilma, que chegou a anunciar a intenção de promover um plebiscito para instaurá-la e, depois das pressões contrárias dos grupos conservadores, recuou, na verdade tende a aprofundar ainda mais o caráter elitista, excludente e antidemocrático do sistema político atual, com medidas como a cláusula de barreira para a existência dos partidos com base no desempenho eleitoral, o fim das coligações proporcionais, o voto distrital, etc. Para o PCB, não passa de uma falácia a afirmação de que a reforma política esboçada vá acabar ou reduzir a corrupção, aprimorar os mecanismos democráticos e assegurar o fortalecimento dos partidos e a fidelidade partidária.

O que se vê até agora é o encaminhamento de propostas no sentido de favorecer apenas os interesses das chamadas grandes agremiações partidárias, na direção contrária, portanto, de qualquer possibilidade de criação de novos mecanismos de participação popular, tais como a adoção de consultas regulares à população, cassação popular de mandatos, tribuna popular nos parlamentos, ampliação da iniciativa legislativa, formação de conselhos populares autênticos, etc. Há de fato em curso uma reforma eleitoral regressiva que, no essencial, visa a eliminar os pequenos partidos, forçando a absorção das legendas de aluguel pelas maiores agremiações e a perda do registro legal das organizações socialistas e revolucionárias, as quais já encontram dificuldades para participar dos processos eleitorais em concorrência com as campanhas milionárias e nos marcos de uma legislação draconiana e desigual.

A “reforma” proposta pelos partidos burgueses
A chamada cláusula de barreira surgiu em alguns países da Europa, com o claro objetivo de excluir partidos comunistas e revolucionários dos parlamentos, os quais tendem a ser minoritários em termos eleitorais na atual conjuntura, pois a luta dos comunistas não se restringe ao parlamento, e as regras burguesas nada têm de democráticas, fazendo imperar a influência do capital e a manipulação da mídia no jogo eleitoral. O partido que não atingir o percentual mínimo exigido não teria direito a cotas do Fundo Partidário, horário gratuito no rádio e televisão. Se esta norma prevalecesse na primeira metade dos anos oitenta, o PT estaria na linha de corte, sem poder crescer.

Outra medida proposta é o fim das coligações proporcionais, com o objetivo de concentrar o quadro partidário a poucas agremiações. As legendas burguesas de aluguel, de pequeno porte, não têm qualquer dificuldade de promover sua própria extinção, fundindo-se com partidos burgueses de maior porte, desde que a negociação compense. Fusões partidárias já estão em curso, prevalecendo razões de ordem fisiológicas e não ideológicas.

Sem ilusões de que mudanças na legislação eleitoral, mesmo que avançadas, possam tornar democráticas as eleições burguesas, o PCB é a favor das coligações, desde que estas se estabeleçam a partir de programas políticos e referências ideológicas definidas. Nossa proposta é a verticalização nacional das coligações, com a possibilidade de formação de “federações de partidos”, em bases programáticas e permanentes, para além das eleições, possibilitando a identificação das legendas e composições políticas com propostas e formulações que não se alterem ao sabor das conveniências de momento.

Outra proposta que interessa aos setores conservadores é a da introdução no Brasil do chamado voto distrital nas eleições proporcionais, por intermédio do qual o eleitor só teria direito a votar em candidatos inscritos para disputar o cargo de deputado em seu distrito, ou seja, numa determinada jurisdição. Uma vez eleito, o parlamentar distrital tende a se comportar como uma espécie de despachante da região que o elegeu e pela qual pretende se reeleger. Se hoje já existe uma grande despolitização nas eleições proporcionais, o advento desta mudança tornaria ainda mais minoritário o voto de opinião, identificado com projetos alternativos de sociedade, espaço principal dos partidos revolucionários, dando lugar ao bairrismo e às disputas regionais. Por estas razões, o PCB se coloca na defesa do voto universal e radicalmente contrário ao voto distrital, ainda que misto, ou seja, com uma parte do parlamento eleita pelo distrito e outra pelo conjunto de eleitores.

Na contramão do projeto burguês, organizar a luta pelo Poder Popular
Para que os trabalhadores tenham de fato oportunidade de participação nas tomadas de decisão sobre sua vida, é preciso muito mais que uma reforma política ou a engenhosidade de sistemas de representação, organização partidária e sistemas eleitorais pretensamente inovadores, elaborados para dar falsa impressão de mudanças e de um verniz de participação popular, quando de fato mantêm a dominação capitalista. É necessário superar radicalmente a ordem institucional da política burguesa, incorporando mecanismos de democracia direta nos locais de moradia e trabalho da população, para que se garanta efetivamente a participação das entidades populares na formulação das políticas sociais e do direcionamento exclusivo das verbas públicas para a solução dos problemas vividos pela população no seu dia a dia.

Além disso, é preciso lutar por formas consequentes de participação popular, tais como a garantia de acesso das organizações populares às tribunas parlamentares; direito de cassação direta de mandatos; ampliação das consultas populares, com plebiscitos e referendos; ampliação do direito à iniciativa legislativa popular; igualdade de condições entre os partidos na distribuição do tempo de propaganda gratuita, do fundo partidário e no financiamento público de campanhas.

O PCB é radicalmente contrário ao financiamento privado nas eleições, pois as candidaturas ficam completamente atreladas aos interesses das empresas financiadoras. O capital financeiro, as empreiteiras, o agronegócio e as grandes empresas distribuem suas doações entre os partidos e coligações da ordem (PT, PSDB, PMDB, PSB, etc), para garantir que seus interesses particulares e lucros escorchantes sejam reproduzidos continuamente, caso saiam vitoriosos quaisquer dos candidatos dessas coligações. Não temos qualquer ilusão de que a exclusividade da utilização de recursos públicos nas campanhas evitará o financiamento privado de empreiteiras e empresas com interesses na prestação de serviços a entes públicos ou que dependem de regulamentação e outros benefícios públicos. No entanto, entendemos que a iniciativa pode reduzir a promiscuidade hoje reinante entre os grupos econômicos e os agentes políticos.

Outro tema defendido pelo PCB é o da lista fechada nas eleições proporcionais. Esta é uma bandeira histórica dos comunistas, na perspectiva de que o coletivo partidário está acima das personalidades. Na nossa concepção, os eleitores devem votar em ideias, princípios, programas e não em personalidades. Trata-se de uma mudança que fortaleceria os partidos políticos e garantiria a fidelidade partidária, já que os mandatos pertenceriam aos partidos. Uma vez introduzida essa mudança, os eleitos serão os candidatos listados na ordem decidida pelos partidos. No caso de o parlamentar mudar de partido, perde seu mandato, assumindo o próximo indicado na lista. Há países em que os partidos podem inclusive substituir um parlamentar em exercício de mandato, em caso de infidelidade partidária.

Diante do quadro atual de acirramento das contradições na sociedade brasileira, em que os seguidos escândalos de corrupção, tráfico de influência, manipulação, fraudes, uso da máquina pública, promiscuidade na relação público/privado e todas as degenerações políticas inerentes ao capitalismo expõem os problemas inerentes à chamada democracia burguesa, o PCB considera que é preciso avançar na luta pelo Poder Popular.

No momento de crescimento do pensamento conservador no Brasil e no mundo, inclusive através de manifestações abertas da direita fascista, entendemos ser papel das organizações de esquerda e dos movimentos sociais combativos fazer avançar a luta anticapitalista, ocupando todos os espaços possíveis de participação popular, como forma de construção política e caminho de elaboração de um programa profundo de transformações sociais. A ausência dos revolucionários em quaisquer espaços de luta reforça a ideia do senso comum segundo a qual a política se restringe às alternativas da ordem e que não há solução fora do capitalismo. Nossa presença é importante e incômoda, seja para as classes dominantes e a direita mais raivosa, seja para os reformistas que veem suas verdades serem questionadas. Só há um caminho: fortalecer a auto-organização e a mobilização dos trabalhadores em defesa de seus direitos e de seus interesses históricos, no rumo da construção do Poder Popular e do Socialismo.

Novembro de 2014
COMISSÃO POLÍTICA NACIONAL DO PCB
Partido Comunista Brasileiro

[Dica] Para Aécio Neves.

 (As coisas óbvias...) Aécio Neves que disse que faria uma oposição firme ao governo esquece da lição mais básica: para fazer oposição, seja firme ou fraca, nas casas do Senado ou da Câmara, é preciso frequentá-las. Estar presente. De casa, da praia ou do restaurante é impossível.

 Respeite seus eleitores (gostemos ou não deles), Aécio. E pare de faltar. É o mínimo.

[Humor] Mr Bean em uma biblioteca.

 (Quem nunca?) E o detalhe curioso fica por este episódio/esquete não ter sido aproveitado na tevê aberta no Brasil.


[Streaming] All games in the Europa League/Todos os jogos

 All games in the Europa League today:

FirstRowSports

Nossa xenofobia de cada dia

(Já foi o tempo...) Quando a seleção brasileira de futebol tomou 7 gols da Nationalmannschaft (e que poderiam ter sido oito não fosse a ruindade do Mesut Özil, em péssima fase há um tempão), muito se falou da necessidade de intercâmbio, de olhar melhor a Europa, nossos vizinhos e tudo o mais. Discurso corretíssimo que contrastava com a sempre empáfia do brasileiro no futebol, que só nos anos 2000 passou a ver méritos no futebol dos outros. Antes, sempre era o Brasil que perdia - salvo boas e raras exceções no jornalismo.

 Uma curiosidade: sempre que ia fazer uma pesquisa em qualquer arquivo, jornal, essas coisas, eu dava uma conferida nas sessões de esporte. Mais basicamente as que versavam sobre Copa do Mundo, pois, como historiador, a questão da ótica do brasileiro a respeito do futebol e a dos órgãos oficiais a respeito da Seleção como mecanismo de identidade nacional me fustigavam muitíssimo. Sugiro um recorte a respeito deste tema abordado neste artigo acadêmico: clique aqui

 Voltando... Raras foram às vezes, com exceção talvez a 50, que a imprensa nacional soube enxergar méritos nos adversários. A Holanda de 74 era descrita pelos jornais como uma "seleção sem tradição" e a seleção nacional é que não jogou o que sabia, a convocação foi ruim e essas ladainhas de sempre. A Itália de 82 um time bruto, que batia muito, sem talento. Quem havia perdido o cotejo era o técnico, sem "pedigree", que não conseguiu dar padrão defensivo à equipe. Alguns outros culpavam um simples mau dia.

 Já em 86 a culpa foi da desorganização, das brigas internas. Embora a seleção brasileira tenha feito uma partida melhor que a da equipe francesa, aquela equipe liderada por Platini era um timaço. Em 90 foi tudo Lazaroni. Recordo-me até hoje o texto da Folha do dia seguinte em que afirmava que a seleção argentina era medíocre, fazendo pouco caso com a naquele momento atual campeã mundial e com o maior jogador do planeta, Maradona. Um crime futebolístico.

 Aquele mundial também passou a ser estigmatizado, sendo considerado um dos piores. De fato em 90 teve poucos gols, mas daí a dizer que foi péssima, sem qualidade... Só os nomes de alguns dos craques das seleções de Alemanha, Holanda, Inglaterra e Argentina naquela Copa eram o suficiente pra desmentir essa heresia.

 Em 98 o Brasil havia entregue, vendido a final. Dizia-se que para receber a Copa de 2006. Antes da final, havia um otimismo absurdo. Desconsiderava-se completamente a campanha excelente da França, um time muito mais arrumado, e a caminhada difícil da equipe da CBF, com derrota, pênaltis e uma defesa extremamente vazada. Em 2002, apesar do título, numa das Copas do Mundo mais fracas de todos os tempos (aquela equipe alemã por exemplo foi a mais fraca que vi entre todas da Mannschaft) em que seleções como as da Turquia e Coréia do Sul ficaram entre as 4 melhores, o discurso passou a mudar um pouco. Muito por conta dos campeonatos europeus, com cada vez mais adeptos em território nacional, seja pela expansão das tevês por assinatura ou também pela transmissão da Champions League em canais abertos.

 Mas mesmo assim a empáfia era a mesma. Até pouco muito comum era a utilização das vitórias das equipes brasileiras no torneio de jogo único-ou duplo caça-níquel da FIFA e outrora da Toyota entre clubes para se dizer que os times daqui eram melhores que os da Europa! E mesmo com os maiores craques brasileiros a atuarem em solo europeu, num exercício de pachequismo e de falta de lógica a deixar rubro os pômulos de quem os via.

 Só mesmo as surras sofridas nos últimos anos limitaram esse discurso irreal, que ignora não apenas o fato de equipes européias não valorizarem a competição como também o contexto das conquistas (Inter e São Paulo ganharam dando poucos chutes a gol e a sofrer intensa pressão durante 90 minutos).

 No entanto, apesar disso, ainda é difícil um profissional estrangeiro conseguir espaço no futebol nacional, mesmo com todo o discurso pós 7 a 1 que pedia mais intercâmbio. Só nessa semana dois casos foram observados: o técnico do Bahia a tecer críticas pesadas aos jogadores argentinos de seu elenco, acusando-os de antiprofissionalismo; e a relação difícil no grupo do Palmeiras entre jogadores também argentinos, os brasileiros e o técnico Dorival.

 Outro ponto bastante visível é a rejeição da imprensa (basicamente da emissora oficial, a Globo) a um nome estrangeiro no comando da seleção. Com a saída do Mano e as várias especulações, inclusive a do Guardiola, a emissora ignorou completamente o fato e impôs enquetes direcionadas para treinadores nacionais.

 O concreto é que até hoje o futebol no Brasil é um espaço com pouca abertura para profissionais de outros países. Mas este fenômeno não é algo restrito ao ludopédio. A xenofobia é algo que está muito enraizada em nós. O senso de inferioridade em relação a europeus e estadunidenses é que por vezes engana um pouco os desavisados e faz crer que brasileiros são extremamente solícitos a quem vem de fora.