Correio da Cidadania
ESCRITO POR MILTON PINHEIRO*
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TERÇA, 09 DE DEZEMBRO DE 2014
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Recentemente,
uma equipe do ministério público federal descobriu, na casa do
tenente-coronel Paulo Malhães, documentos e relatórios de uma operação
do Centro de Informações do Exército (CIE) para perseguir militantes
políticos nas fronteiras do sul do Brasil. Esse material, da “Operação
gringo”, data de 31 de dezembro de 1979 e traz algo que reitera uma
antiga prática dos governos militares: a destruição do PCB como
“inimigo” a ser mais uma vez combatido diante da perspectiva da
transição política da ditadura para a democracia tutelada e, ao mesmo
tempo, a justificativa para manter os aparelhos de repressão.
A
historiografia já confirmou, com farta documentação, que o PCB. mesmo
não fazendo o enfrentamento armado à ditadura, foi sempre considerado um
inimigo a ser massacrado. Logo no começo do regime militar, em 1964, de
abril a novembro, foram presos, torturados e assassinados oito
militantes do partido. Em 1965, foram assassinados dois militantes
comunistas e, em 1969, mais um. Já em 1971, os órgãos de repressão do
regime consumaram a morte de três comunistas. Em 1972, foram mortos pela
repressão dois militantes e, logo no começo de 1973, mais um.
Mas
o pior ainda estava por vir. De 1974 a 1976, a ditadura, analisando a
influência do PCB na frente política e nos movimentos sociais de
resistência democrática, desenvolveu a chamada “Operação Radar” para
destruir o PCB, matando membros do Comitê Central (CC) e quadros
importantes da vida social e cultural do Brasil: foram assassinados 21
membros do partido. Em 1977, a ditadura faz a sua última vítima no PCB
ao assassinar um professor, sob tortura, nas dependências do Exército no
Rio de Janeiro.
A
“Operação Radar”, articulada em 1973, só entrou em funcionamento de
forma mais contundente em 1974. Essa operação, iniciada em São Paulo,
mudava de nome nos outros estados. Hoje, uma farta documentação comprova
que o regime, ao pensar a “transição segura, lenta e gradual”,
precisava destruir, antes, o PCB.
Essas
descobertas jogam luz sobre o processo político da chamada longa
transição brasileira e vão impactar os estudos sobre como se ocupou o
espaço político no Brasil, e de que forma. Sabíamos das diversas
operações para destruir o PCB até 1976. No entanto, essas novas fontes
estão a nos mostrar que, mais uma vez, pela capacidade de reconstrução
dos comunistas brasileiros - na frente democrática e nos espaços
operários e sociais -, o PCB, novamente, foi atacado.
A
repressão, com essa comprovada investida, atesta algumas questões: o
partido precisava ser destruído por sua presença nas lutas sociais no
Brasil, por sua longeva experiência política (1922) e por representar
interesses sociais. Portanto, deveria ser infiltrado e dissecado
novamente (no Brasil e no exterior). Mas não é só isso: ao atacar o
inimigo número 1, os representantes da ditadura tinham uma nova
justificativa para a sua existência, só que agora em outro patamar.
*Milton Pinheiro é cientista político, professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e pesquisador da USP.
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