10/12/2014

O ódio como plataforma política. Ou: o que de fato importa.

(Guten Morgen) Não é nada fácil para qualquer pessoa com o mínimo de senso das proporções e de humanidade ter de ver um indivíduo como Bolsonaro a vociferar monstruosidades em um púlpito que deveria ser utilizado para fins nobres, como a extensão da cidadania, de direitos e, por corolário, o combate de preconceitos tão terríveis que ainda hoje maculam a história da humanidade -- caso do machismo, por exemplo. Usar um espaço que é entendido em uma república como "casa do povo" para externar ódio contra parcela desse próprio povo é algo criminoso e com o qual não podemos ser jamais coniventes.

 Mas para além desta causo absurdo específico, que outros espaços devem debater com maior competência até por abranger também a esfera jurídica, é imperioso entender o fenômeno do ódio como plataforma política conforme tem se notado nos últimos anos. Que sociopatas e psicopatas existam, isso é natural, pois obviamente da natureza. No máximo se pode tratá-los no âmbito médico. Que eles tenham muitos adeptos e sejam figuras presentes em cargos eletivos, porém, representa algo importante a ser compreendido em face da sua periculosidade que, em último caso, pode levar o Brasil à fascistização - um fenômeno já em curso!
 
 Há no país uma série de discursos oficialescos que ganham tom de infalibilidade uma vez disseminados. Um deles, talvez o mais famoso, seria o aspecto dócil, afetuoso, passivo e polido do povo brasileiro. Esta fala, que se confunde e se nutre com noções equivocadas tanto de compreensão histórica do Brasil, seus povos e origens, quanto do oportunismo de setores que anseiam pela manutenção do "status quo".

 Aí reside um ponto fundamental para entendermos o momento atual sem ter que apelarmos para teorias ignorantes do ponto de vista histórico: o ódio, hoje visto em Malafaias, Bolsonaros, Magnos Maltas, Telhadas et caterva sempre esteve entre nós, mas apresentado de uma maneira diferente. E diferente aqui não é sinônimo de melhor ou pior, cabe lembrar.

 O triste fenômeno atual não é um monstro que surgiu do dia para a noite: ele vem a ser gestado há muito tempo. Carregando consigo heranças de preconceito, ódio e segregação que historicamente aqui sempre estiveram. Mas se agregando a características dramaticamente atuais, como a perda da dimensão pública, o  individualismo, os muros de concreto que hoje separam fisicamente aqueles que sempre estiveram separados simbolicamente, a desidratação das noções humanistas da religiosidade substituídas por meras concepções que diminuem a mulher e o homem ao papel de agentes em busca do lucro. Enfim uma pletora de fatores que reduzem a existência, que desumanizam. 

 Compreender e agir para limitar o tanto quanto possível esse terrível fenômeno no Brasil é não apenas necessário. É mais do que isso: é urgente.

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