12/12/2014

A esquerda no Brasil às vezes é tão elitista quanto os que combate

(Mudar é preciso) Ao findar do último pleito eleitoral eu ouvi e li muitas reflexões acerca do desempenho devastador do candidato da Direita fascista (e de outros setores mais ou menos alinhados com essa gente) Aécio Neves mesmo em regiões da periferia onde tradicionalmente a esquerda reinou - pelo menos no âmbito eleitoral. Alguns lugares inclusive em que os governos do PT concentraram parte considerável de seus esforços.

 Muitos culpavam a mídia, que de fato sempre foi de Direita e hoje ainda abre muito espaço para um colunismo que namora com a extrema-direita, caso do Reinaldo Azevedo, Pondé, Marco Antonio Villa e outros tantos ideólogos de maior ou menor importância. Ainda se atrele a isso o aparecimento de "humoristas" de classe média que reforçam vários estereótipos conservadores, quase todos no ramo do "stand up" e que têm grande alcance entre jovens - inclusive da periferia - na região do Sul/Sudeste.

 Esse avanço conservador não é outra coisa que não uma atitude de reação em virtude do processo de ampliação do espaço democrático nos últimos anos que, de uma maneira ou de outra, passou a questionar privilégios e, deste modo, obter alguns avanços. Usando do seu principal instrumento, qual seja, a grande mídia, ao qual setores historicamente marginalizados não têm acesso, grupos privilegiados passaram "a se mostrar" sem medo e defender suas pautas, das mais sutis às mais preconceituosas. Algo que o fim da terrível experiência da ditadura civil-militar havia inibido pelo menos publicamente.

 E junte-se a tudo isso o projeto político do lulo-petismo, que busca diminuir a desigualdade e integrar por meio do consumo, reforçando e não desconstruindo a lógica capitalista, individualista, consumista e por isso desumana. E tal processo com a pecha - que a grande mídia desavergonhadamente propagandeia - de esquerda e até, para alguns extremistas supracitados, comunista.

 O PT está tão longe do comunismo como os Estados Unidos da defesa da democracia - não apenas a de consumo.

 Todos esses são fatos verossímeis, mas que não anulam um outro que é perturbador: o elitismo das esquerdas, incluindo aí a revolucionária da qual participo. Viver embates ideológicos dentro de DCEs, núcleos universitários e jornais/panfletos com linguagem inacessível não é o fim que se anseia para quem defende tornar o mundo algo melhor. É preciso ir muito além disso.

 Das muitas coisas que me espantaram ao ter acesso ao ambiente universitário, na FFLCH-USP, foi notar a proeminência do pensamento de esquerda (não imposto, como alguns paquidermes afirmam). Mas todo esse ambiente auspicioso sem dialogar nem mesmo com o entorno da universidade, muito menos com o que está para além dela - um verdadeiro disparate!

 Como sujeitos integrados ao mundo, não podemos terceirizar a responsabilidade que temos sobre ele! É mais do que necessário ir à periferia, estar nela, fomentar a organização nos bairros, lutar contra o processo de curralização evangélica desses espaços, incentivar a participação política e dar prioridade aos que mais necessitam.

 Agir nesse sentido é o primeiro passo rumo a ter novamente algum poder para propor mudanças reais na sociedade. Qualquer coisa no sentido contrário, no do encastelamento, apenas fará da esquerda, seja ela qual for, uma dessas denominações acadêmicas inoperantes e insignificantes.

 Não há relevância se apartado do povo. É preciso estar junto a ele. Sempre!

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