04/04/2016

Não há onda conservadora no Brasil

   Pelo camarada HG Erik. 
Aqueles que, neste momento, desejam e acreditam na possibilidade de existir um governo moralizador - leia-se, Jair Bolsonaro com vice Sérgio Moro e demais variações possíveis da encarnação do "salvador da pátria" - devem imaginar, se forem minimamente consequentes, que um governo desses exigiria uma forma totalmente autocrática de regime político.

Pois Bolsonaro é um bobalhão oportunista. Não tem nenhuma capacidade de costurar alianças para o projeto que instalariam em sua cabeça ôca para defender. Last, and least, não tem moral para sequer moralizar os próprios filhos. Entretanto, mesmo seu arremedo de ditadura não tiraria o país da crise.

Quem pensa a situação a partir do político não enxerga o óbvio: Lula e o PT eram lindos, de repente se tornaram monstruosos. Por que? Será que a Dilma, eleita e reeleita, se tornou o mal a se extirpar por conta da política petista? Ou será que a política mudou e se tornou insuportável por ter alguma mórbida preferência pela impopularidade?

Ah não, o problema é a corrupção. É ela que fez surgir a inflação, e nem uma coisa, nem outra existiam antes da costela do molusco de barro morder a maçã que levou Cristo à cruz em vão. Mas aí virá São Bolsonaro, que há de instaurar a ética na guerra política e o país sairá da recessão. - A escadinha que o moralismo especula mitologicamente aqui começa na subjetividade e cresce até engolfar a sociedade: primeiro, resolve-se a crise moral, e com isso resolve-se a crise política, e daí a crise econômica. Há que ser estupendamente estúpido para se acreditar nisso.

Entrementes, a pequena burguesia moralizaria a sociedade fazendo justiçamentos na rua - é o que temem os defensores do governo Dilma. Mas essa tese de um "crescimento do fascismo no país" é pari-passu à tese de uma crescente "onda conservadora no Brasil", ou seja, simplesmente empirista, impressionista, falsa. Marketing político do medo, reginaduartismo em prol do PT.

Engraçado é reconhecer - e ter de relembrar aqui - que, quanto a isso, a Marilena Chaui não estava de todo errada. A pequena burguesia (que ela chama de "classe média", com a precisão de um hipopótamo) sempre foi fascista. Se agora "o gigante acordou", daqui a pouco ele dorme de novo.
Nada disso seria qualquer problema se a esquerda brasileira não insistisse em dormir ao seu lado.

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