Por Wilson Gomes
Quem me ajudou a entender o perfil dos "juristas de renome" ™ cujo
pedido de impeachment foi aceito na Câmara foi uma reportagem de Fábio
Zanini, da Folha, publicada em 6/3. A matéria, intitulada "Ex-ministros e
advogados reúnem-se semanalmente para criticar Dilma", fala sobre os
Comensais do Santo Colomba ®, elegante restaurante dos Jardins, em São
Paulo, onde se reúne, desde o início de 2015, Miguel Reale Jr.e uma
galera dos campos político e jurídico paulistano. Entendem-se como
conspiradores, "conspiratas" como carinhosamente se autodefinem. O que
fazem toda semana no Santo Colomba? Zanini responde: "reuniões-almoço
cuja pauta predominante são estratégias para tirar Dilma da Presidência,
seja pela via do impeachment, seja via cassação pelo Tribunal Superior
Eleitoral (TSE)".
Não se enganem. No início de 2015 estávamos
longe da crise política em que estamos mergulhados, tínhamos acabado de
eleger Dilma, mas a oficina de insatisfação paulistana e tucana já
estava à obra para encontrar um caminho, qualquer um, para retirar de
Dilma um mandato que os Comensais do Santo Colomba ® julgavam que
deveria estar em outras mãos.
Se Miguel Real Jr. e sua turma de
velhos tucanos "emprestam um ar de solenidade ao grupo", a energia vem
de uma turma de "ex-alunos da São Francisco na casa dos 40 anos.Sua mais
conhecida representante é Paschoal, professora de Direito Penal na São
Francisco". Janaína Paschoal, orientanda de doutorado de Reale, entra na
história neste momento.
Janaína Paschoal escreve de vez em
quando na Folha, dá para ter uma ideia do seu perfil. É conservadora na
maior parte das vezes, liberal, algumas vezes, mas o que há de mais
consistente no currículo da moça é o antipetismo. Paschoal se convenceu
de que vivemos sob jugo, que o PT é um polvo marciano que se apossou do
poder dominando telepaticamente as pobres mentes brasileiras. Paschoal,
por exemplo, defendeu Mayara Petruso, a mocinha que recomendou, em 2010,
que se fizesse um favor ao Brasil afogando nordestinos no Tietê,
dizendo que na verdade foi Lula quem dividiu o Brasil e que ninguém
estava notando o bullying que sofrera Serra naquela eleição por ser
paulistano.
Paschoal progrediu muito desde o início de 2015, quando
fez o trabalho pesado do pedido de impeachment, em consórcio com Reale e
Bicudo, que "agregaram valor" à produção intelectual. Agora tem
reconhecimento público em padrão de celebridade e está convencida de
estar mudando o Brasil. Deve acreditar que faz com o impeachment o que
Moro faz com a Lava Jato: construir um mundo novo, lavado da corrupção
no sangue do Cordeiro e depurado de todo o Mal. No caso dela, a
convicção está virando religião, uma fé profunda, na qual se vê como
sacerdotisa de um culto nórdico em que Legiões vencem Serpentes Cósmicas
Aladas.
V
ejo vocês a este ponto, meus pobres leitores,
balançando a cabeça, sorriso aos lábios, confiantes em que o velho Will
dessa vez perdeu o prumo e exagerou. Pois bem, em apologia deste
escriba, transcrevi o final do discurso feito por Paschoal, ontem, no
Largo de São Francisco, numa reunião ampliada dos Comensais da M...ehm,
dos Comensais do Santo Colomba ®. Recomendo ver o vídeo que a revista
Fórum reproduz, para sentir o "crescendo" emocional da Sacerdotisa ao
enunciar a alegoria central da sua fé. Ao fundo, infelizmente, ouvem-se
profanos gritando "Janaína, casa comigo!". Fazer o quê? Tem gente que
não sabe colocar a libido no lugar certo, quer dizer, na política. Tsc.
Mas, enfim, confiram vocês mesmos:
"O que está acontecendo? As
cobras que se apoderaram do poder estão aproveitando as fraquezas
humanas para se perpetuarem. Quais são as fraquezas mais
características? A sede de poder, a sede de dinheiro e o medo. Eles se
fortalecem no nosso medo, eles se fortalecem na ambição desmedida. (...)
Nós estamos num momento de reflexão. Mais do que parar para refletir
sobre o impeachment – que há motivos de sobras, como todos aqui já
falaram e eu já falei também - , é o momento de discutir a que Deus nós
queremos servir? Ao dinheiro? Nós queremos servir a uma cobra?
(Aos berros) O Brasil não é a República da cobra. Nós somos muitos
hélios, muitos migueis, muitas lúcias, muitas janaínas, muitos celsos,
muitos danieis, eles derrubam um levantam-se dez. Nós não vamos deixar
esta cobra continuar dominando as nossas mentes, a alma dos nosso
jovens. (...) Por meio de dinheiro, por meio de ameaças, por meio de
perseguições, por meio de processos montados (e eu sei do que estou
falando porque estou defendendo muitos perseguido político) eles querem
nos deixar cativos. Mas nós não vamos abaixar a cabeça, porque desde
pequenininha que o meu pai (...) me disse “Janaína, Deus não dá asa pra
ccobra”. Aí, eu digo pra ele, “Mas pai, às vezes a cobra cria asa”. “Mas
quando isso acontece, Deus manda uma legião para cortar as asas da
cobra”. Nós queremos libertar o nosso país do cativeiro de almas e
mentes, não vamos abaixar a cabeça pra essa gente que se acostumou com o
discurso único: Acabou a República da Cobra!”
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