Por Pablo Ortellado
Desde o começo dos protestos, tenho feito um grande esforço para olhar
com empatia os manifestantes que pedem o impeachment. Eu entendo e
compartilho a indignação com a corrupção na Petrobrás e simpatizo muito
com a disposição de protestar contra o poder estabelecido.
Apesar disso,
acompanhando profissionalmente as manifestações desde o final de 2014,
muitas coisas me impedem de ver como um avanço democrático essas
mobilizações: para começar, há muito preconceito de classe nas
críticas ao ex-presidente Lula e ao MST, assim como há muito machismo
nas críticas a presidente Dilma; há muita intolerância antidemocrática
ao pensamento de esquerda; há uma perigosa conivência com a participação
dos setores ultraconservadores e antidemocráticos, como os defensores
da intervenção militar e os skinheads neofascistas; mas,
fundamentalmente, há muito pouca politização, o que permite que a justa
indignação contra a corrupção seja abertamente instrumentalizada pelos
empresários que querem pagar ainda menos impostos, pelos políticos que
querem ascender ao poder e enterrar a Lava Jato e pelos grupos
ultraliberais que querem desmontar os direitos constitucionais a saúde e
a educação.
Mas, o mais importante, é que acompanhando as mobilizações
de perto, não vejo qualquer sinal de reflexão autocrítica com esse
estado de coisas. É como se nada disso fosse um problema ou incomodasse
quem vai lá, ainda que essa não seja a opinião da maioria das pessoas.
Se, por um lado, grupos mais moderados como o Vem pra rua vem ganhando
uma liderança mais clara, deixando às margens grupos ultraconservadores;
por outro, a medida que o tempo passa e a polarização vai acentuando, o
preconceito, a intolerância e o ódio vão se tornando mais correntes.
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