20/03/2016

Porque não apoiar atos anti-PT

Por Pablo Ortellado

Desde o começo dos protestos, tenho feito um grande esforço para olhar com empatia os manifestantes que pedem o impeachment. Eu entendo e compartilho a indignação com a corrupção na Petrobrás e simpatizo muito com a disposição de protestar contra o poder estabelecido.

Apesar disso, acompanhando profissionalmente as manifestações desde o final de 2014, muitas coisas me impedem de ver como um avanço democrático essas mobilizações: para começar, há muito preconceito de classe nas críticas ao ex-presidente Lula e ao MST, assim como há muito machismo nas críticas a presidente Dilma; há muita intolerância antidemocrática ao pensamento de esquerda; há uma perigosa conivência com a participação dos setores ultraconservadores e antidemocráticos, como os defensores da intervenção militar e os skinheads neofascistas; mas, fundamentalmente, há muito pouca politização, o que permite que a justa indignação contra a corrupção seja abertamente instrumentalizada pelos empresários que querem pagar ainda menos impostos, pelos políticos que querem ascender ao poder e enterrar a Lava Jato e pelos grupos ultraliberais que querem desmontar os direitos constitucionais a saúde e a educação.

Mas, o mais importante, é que acompanhando as mobilizações de perto, não vejo qualquer sinal de reflexão autocrítica com esse estado de coisas. É como se nada disso fosse um problema ou incomodasse quem vai lá, ainda que essa não seja a opinião da maioria das pessoas. Se, por um lado, grupos mais moderados como o Vem pra rua vem ganhando uma liderança mais clara, deixando às margens grupos ultraconservadores; por outro, a medida que o tempo passa e a polarização vai acentuando, o preconceito, a intolerância e o ódio vão se tornando mais correntes.

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