14/03/2016

A semana decisiva para Dilma e o PT.

As manifestações de caráter conservador que aconteceram em várias capitais e cidades do país contra Dilma Rousseff, Lula e o PT foram consideradas exitosas por seus realizadores e fontes do Palácio do Planalto enxergam que o governo foi por fim encostado na parede com estes atos que eles próprios consideraram surpreendentemente grandes.  Há a partir de agora uma real possibilidade do PMDB e parte da base aliada começar a abandonar o barco publicamente. Até mesmo o porto seguro do governo, a ala do senado, já é vista com maior desconfiança. O cenário é crítico, dizem.

Não se sabe ainda que direção ou quais rumos o governo Dilma indicará, porém, mas é consenso que, se nada for feito, o impeachment não tardará em acontecer. Em contrapartida o Partido dos Trabalhadores chamou para o dia 18 atos em defesa do mandato da presidenta com o slogan "em defesa da democracia e por mudança na política econômica". Não é possível aferir o que se espera dessa manifestação no momento em que escrevo este texto. Talvez o número muito expressivo de pessoas nas manifestações que aconteceram em todo o país, especialmente em São Paulo, exija um esforço redobrado e o fato de o governo estar com a corda no pescoço faça com que haja uma mobilização extraordinária. Mas a data -- dia de semana -- e o horário, marcado para as 16 horas, torna tudo um tanto mais difícil se o que se deseja é mostrar que o governo ainda tem uma base social forte e que não abdica do mandato conquistado nas urnas. (Para isso, penso eu, o ideal seria mobilizar pelo menos metade do que se viu por parte da direita).

Até lá, porém, muito há de se repensar e talvez seja até mesmo um pouco tarde demais para fazê-lo -- embora o exame seja imprescindível. Faz-se premente que Dilma acene mudanças que beneficiem aqueles que a elegeram e que se mostre disposta a defender seu governo, com falas fortes e firmes. Que denuncie o golpe branco e que defenda algumas das conquistas do seu governo, como a própria independência do Judiciário, que como se vê, não poupa a mão forte nem mesmo com um ex-presidente símbolo do partido que é situação. Tal postura é inclusive essencial para que a esquerda desacreditada com os rumos tomados após a vitória eleitoral seja impelida a ir às ruas defender um mandato que é indiscutivelmente ruim e que faz coisas contrárias aquilo que prometeu em campanha fazer.

Outra questão importantíssima é pensar em como um PT fragilizado, que virou refém de um lulismo essencialmente pautado na conciliação policlassista e em uma aristocracia sindical inepta, pode tomar o caminho da ruptura. Algo assim, além de destoar do perfil histórico do partido, exigiria pessoas capacitadas e com projetos minimamente alinhavados. E aí está: todos aqueles que se juntaram ao Partido dos Trabalhadores e propuseram qualquer coisa mais avançada, fugindo do reformismo medíocre, foram mais cedo ou mais tarde alijados do partido. 

E como um governo com baixos índices de popularidade, com uma economia em crise e que já deu todos os anéis para salvar os dedos pode, aos 45 do segundo tempo, salvar ele próprio a mão? Parece-me claro que apenas a enfrentar quem ameaça cortá-la, inclusive indo aos microfones e expondo todas as misérias que fazem parte de um jogo que poucos sabem quais são os efetivo atores -- entre financiadores e parcelas da burguesia que puxam a corda.

Esta será a que se poderia chamar de semana D para o governo Dilma. E ainda que o petismo nem de longe tenha em qualquer momento enfrentado a direita ou proposto no governo reformas profundas, o que o impede de ser visto como o que tivemos durante o governo de João Goulart, é imperioso defender as conquistas obtidas -- ainda que poucas -- e lutar dignamente
até o final.

Mesmo que isso não impeça o impeachment do governo daqueles a quem a burguesia não quer mais ver gerindo seus negócios, afinal o pacto que levou o PT ao poder está definitivamente acabado -- e isso é irreversível. A burguesia quer o que é seu de volta e cabe à Dilma Rousseff e aos membros do Partido dos Trabalhadores decidir se o farão com o mínimo de dignidade ou não. E a dignidade aqui tem um nome: luta. E a luta atende pelo lado da classe trabalhadora e em defesa dela.

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