03/06/2015

Os rachas dentro do PSDB e o cenário para 2018

Tenho ouvido e lido muita coisa sobre a conjuntura política nacional e há um certo consenso de que a oposição tenta -- e com sucesso -- desgastar o PT (que em muito colabora pra isso, claro) para alcançar a presidência em 2018.

 É verdade. Mas é apenas parte da verdade. E isso porque essa oposição, a do PSDB, tem vários rachas e que esbarram nas perspectivas de poder de cada um desses grupos e seus caciques. Só em São Paulo há duas fortes tendências dentro do partido: a que apóia Alckmin, que é por incrível que pareça mais social-democrata; e a que se encontra com Zé Serra, que tem mais influência porque mais calejada politicamente.

Serra e Alckmin por sua vez se chocam com o tucanato mineiro, que é encabeçado por Aécio, que tem pouca habilidade na política quotidiana dentro das instituições burguesas (alguns dizem que por preguiça e falta de responsabilidade), mas que carrega consigo um traquejo e uma herança personalista típica dos antros político-partidários burgueses no Brasil e que o fez liderar o PSDB em Minas, um importante Estado no país, com um predomínio que nenhum grupo em São Paulo conseguiu. Há quem credite isso ao pulso firme da sua irmã, que é uma figura muito presente nos bastidores.

Esses três caciques, com a bênção enfraquecida de FHC, se digladiam pelo poder. Alguns de forma mais sorrateira, como Serra, outros de maneira mais atabalhoada, como a turma do Aécio.
Aliás, essas duas figuras têm liderado uma disputa dentro do ninho tucano que, para o bem de todos, chegou aos olhos de parte da população com as denúncias de corrupção: com a benevolência de Aécio, Amaury Jr - que era próximo ao grupo - lançou o livro "A Privataria Tucana'' com uma série de denúncias documentadas que pegou em cheio José Serra.

Os efeitos só não foram maiores para Serra porque a imprensa de São Paulo, numa ação política do seu grupo, o blindou -- o que não agradou Aécio. Em 2010 a displicência com que o mineiro tratou a campanha de José Serra, com um apoio meramente institucional, abalou ainda mais a situação dentro do partido.

Mas José Serra não deixaria por menos. Aliás, se há alguém dentro do PSDB que é bom não ter como inimigo, este é o figurão que hoje tem um poder no partido muito maior que o FHC em qualquer momento desde que saiu da presidência. E foi baseado nessa sua força, em toda uma correlação que vai muito além do seu partido, que Serra em 2014 colocou nas manchetes dos seus jornais-amigos várias denúncias contra Aécio Neves. Uma delas, muito explorada pelo PT durante a campanha, a do aeroporto construído em Cláudio na fazenda de um tio.

Eleito senador, Zé Serra agora tomou frente da oposição e tem sido figura central no Congresso a liderar a oposição tucana para uma junção da pesada com Eduardo Cunha, a tomar um protagonismo que em tese seria de Neves. Esta sua manobra já o coloca como desde já um nome forte para 2018.

Só que há o Alckmin. E seu desempenho em São Paulo, eleito em primeiro turno e conseguindo se distanciar dos escândalos de corrupção dos trens e dos metrôs e a crise hídrica, fez seu capital político subir imensamente. Ele é o nome de FHC para 2018, por exemplo.

Contudo o jogo não será tão simples: a turma de Serra não crê na capacidade de organização política de Alckmin e dificultará ao máximo sua subida a candidato presidencial para 2018. José Serra ainda alega que Alckmin, assim como Aécio, é nulo no Norte e no Nordeste, e que isso tornaria quase impossível uma eleição para a presidência. Ainda mais se o candidato do PT for Lula.

E é diante desse cenário que as cartas vão a ser embaralhadas. Aécio viu seu herdeiro Anastasia ser jogado na lista da Lava-Jato e seu capital político se corroer rapidamente. É do grupo mineiro que partiu as defesas mais firmes no sentido de buscar o impeachment de Dilma Rousseff.

Já Sérra e Alckmin estão a cozinhar tudo em banho-maria enquanto o Governo Federal vai a se desgastar com as denúncias na Petrobras e o baixo crescimento da economia. Contudo, em algum momento, um desses nomes terá de tentar tomar a frente para se posicionar como figura maior do PSDB para 2018. E se esse alguém não for Serra, a chance de se ver envolto em escândalos de corrupção será muito, muito grande.

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