08/06/2015

Comunistas, uni-vos - e ocupai espaços!

O fortalecimento do movimento comunista é de suma importância, todos que são comunistas o sabem. Nós vivemos um momento especial na conjuntura histórica, de grave crise do capitalismo e das instituições liberais-burguesas que legitimam o modo de produção que vigora a fazer suas vítimas em todos os países. Vítimas essas que são trabalhadores e trabalhadoras que não tem em grande parte sequer o direito a conhecer esse mundo tão fantástico que em maioria compõe esse blogue - que é o universo das idéias por meio da escrita.  Segundo a Unesco, existem 774 milhões de adultos analfabetos no mundo. O que equivale a quase 10% da população planetária. A ser que nos últimos anos, de consolidação do capitalismo globalizado, apenas 1% saiu dessa triste realidade.

O que vale asseverar a partir disso que a luta do movimento comunista deve ir muito além dos campos acadêmicos e mesmo de alguns informais de acesso limitado. Precisamos estar em todos os lugares e esgotar todas as formas de comunicação.

Mas não é factível pensar em abraçar o mundo sem ter ainda estrutura para tal. E a olhar a situação no Brasil, embora em crescimento contínuo, somos pequenos e, pior que isso, marginalizados. O movimento comunista no Brasil está fora do debate acadêmico (geralmente só aparece em artigos de economistas de escolas ortodoxas liberais para nos espinafrar), fora do debate na grande mídia (sim, o PT não é comunista) e tem pouca influência em várias frentes de lutas populares e nos debates que sobre ela são travados, quase todos calcados no pós-modernismo.

E esse fenômeno não é apenas por culpa nossa. Ainda que tenha havido uma enorme morosidade no processo da reconstrução dos grupos revolucionários comunistas no Brasil, esse aspecto é generalizado, é problema em todos os países e se deve em muito ao enorme golpe que foi a derrocada da União Soviética, pois todo um projeto de sociedade que orientava quase todos os comunistas e os partidos marxistas-leninistas foi ao chão e foi usado à exaustão pelas potências capitalistas como pretenso exemplo inconteste de que o comunismo estava morto e que o mundo teria de se conformar às idéias que regem o capitalismo.

De certa forma a burguesia não conseguiu se sair totalmente vitoriosa, pois apesar de o Perry Anderson ter recentemente bem demonstrado que a moral burguesa está em voga em praticamente todas as sociedades do mundo e a democracia-liberal ser propagandeada como modelo ideal pelos quatro cantos, há ainda muita resistência, afinal a sociedade de classes produz dialeticamente suas contradições. Grupos anti-capitalistas estão por toda parte. Só que a marca e a ferida deixadas no movimento comunista foram muito intensas e a cicatrização, penso eu, não se dará enquanto nossas idéias não estiverem de novo representadas na boca dos trabalhadores, defendidas por eles, e de forma bastante sólida -- o que exige coesão teórica nas idéias propositivas da construção do socialismo.

E o primeiro passo nesse sentido é colocarmos de novo nossa cara nos debates. Mostrar que os comunistas estão de novo aí e que apenas nós representamos de fato o novo (esqueça a Marina Silva e sua nova política com o Itaú), porque combatemos a velha ordem capitalista -- e os camaradas que estão no PCB, que é o partido que mais cresce entre os de esquerda não alinhados ideologicamente com o PT e de maior solidez teórica, tem plena capacidade de fazê-lo.

E tal coisa já pode começar a se dar na internet com, quem sabe, vídeos no YouTube em um canal específico que traga nossas idéias, propostas e suscite o debate para aprimorar nossa construção do socialismo e do Poder Popular. Um veículo com boa edição, captura, linguagem, enfim, que se apresente de forma para além do razoável.

É premente a necessidade de nos colocarmos nesses campos de debates. Hoje há uma predominância da linguagem liberal, seus signos e tudo o mais mesmo em quem se alinha de algum modo com a democracia burgo-liberal pelo viés da esquerda - vide Eli Vieira, Pirula e Slow, por exemplo, rapazes com alguma influência na rede.

Não dá mais pra ouvir sem direito a réplica gente a dizer que a Guerra Fria foi o embate da "ditadura" comunista contra os EUA democrático, quando o último até pouco tempo prendia pessoas negras por sentarem em lugares destinados para brancos como no caso da Rosa Parks e financiava inúmeras autocracias mundo afora enquanto seu regime político é ainda hoje basicamente dominado por uma única vertente de pensamento que bem reafirma o conceito marxista de ditadura, do latim dicere, que é determinar todas as decisões, e lá é exatamente o que a burguesia faz a despeito das supostos cargos eletivos representativos.

As idéias dominantes de uma época são sempre as das classes dominantes, é verdade, mas elas não podem ser as únicas com direito a apresentação. E hoje é infelizmente o que acontece no Brasil. É preciso sairmos da margem e irmos com tudo para os centros de debate. E não apenas precisamos. Nós podemos. Já temos número para tal. É só questão de arregaçarmos as mangas e fazer. Construir.

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