07/01/2016

Macri, um populista?

Antes de versar sobre Macri, é importante asseverar que não sou adepto da tese do populismo. Ela surgiu na USP nos anos 60 e é uma das coisas mais exóticas e esdrúxulas do campo da ciência política e da sociologia. O que é um populista, afinal? Se focarmos bem, há duas conotações concretas: a teórica, que trata o populismo como um fenômeno associado ao político popular com forte viés demagógico; e o prático, que é o uso dessa tese pra associar qualquer liderança de esquerda que surja na América Latina ao populismo, que tem caráter depreciativo. Até o Bergoglio, o Papa Francisco, passou a ser chamado de populista após expressar algumas opiniões mais progressistas.

Logo se verifica, portanto, o vácuo teórico dessa bobagem. Se um político é demagógico e com grande apoio popular ele é demagógico e popular. Simples assim. Não se precisa teorizar sobre a junção disso, criar um termo-conceito como referência sociológica. E uma referência pobre, afinal ninguém pode ser reduzido a tais adjetivos tão simplórios. A utilização do mesmo como alcunha para lideranças que apareceram na esquerda nas últimas décadas apenas desnuda o caráter extremamente ideológico do termo e seu vazio teórico: é um nada que pode ser utilizado pra classificar qualquer coisa. Nisso Lula, Perón, Getúlio Vargas, FHC, Maduro, Evo Morales, Brizola, Chávez e vários outros podem ser chamados de personagens populistas -- e foram chamados! -- e serem assim igualados como se representassem a mesmíssima coisa, num absurdo que um obscurantista assinaria. Isso definitivamente não é ciência.

Dito isto, fica a pergunta: seria Macri um populista de direita? Se a questão é ser popular e demagógico, aí está algo que Mauricio Macri é. Se tornou prefeito de Buenos Aires após utilizar do clube mais popular da Argentina, o Boca Juniors, como plataforma política. Arrebentou os cofres do clube com malabarismos que permitiram contratar Riquelme em 2007, jogador vindo da Europa a peso de ouro. Naquele ano o Boca Jrs. foi campeão da Libertadores e Macri se tornou celebridade, elencado como principal responsável por aquela façanha.

Prefeito eleito, tratou de fazer da administração da cidade uma nova plataforma para vôos mais altos: a Casa Rosada, a presidência do país. Assim que nela chegou, no final do ano passado, não faltaram frases de efeito e ações que esses jornalões não pensariam duas vezes em acusar de populistas caso fossem tomadas por alguém de esquerda. A sua última foi descredenciar médicos cubanos com a esfarrapada desculpa de não querer financiar nenhuma ditadura (pelo que consta, acordos bilaterais com China, Arábia Saudita, Irã e outros países que não são uma democracia liberal serão mantidos; no caso da China, na campanha, Macri falou em reforçá-los inclusive).

É óbvio no entanto que Macri não será acusado de populista, demagógico ou coisa que o valha. É de direita, está livre disso enquanto fizer o trabalho sujo que lhe cabe. Talvez venha a ser quando o seu governo apresentar os já conhecidos resultados do receituário neoliberal. Aí para a direita e seu principal instrumento, a grande imprensa, seja razoável associá-lo a outros tantos personagens da esquerda que a mesma durante décadas acusou de populistas e demagógicos. Por enquanto o que dá pra dizer, fugindo de cretinice teórica, é que o Macri tem tentado com falas demagógicas e ações circunstanciais, mas que eram bandeiras da sua campanha e do direitismo, jogar cortina de fumaça no nebuloso resultado prático das suas ações no campo da economia, que deve acentuar o desemprego e a desigualdade no país.



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