08/01/2016

A esquerda precisa fazer autocrítica

Eu não sei para vocês, mas há pouca coisa mais triste do que verificar nas redes sociais homens e mulheres da classe trabalhadora a defender discursos os mais reacionários, conservadores e elitistas e o pior: em muita quantidade. Pessoas às vezes que se enquadram inclusive em grupos de minorias sociológicas, sendo mulheres, negros, LGBTs e outros a defenderem pautas da direita e a se dizerem abertamente anti-comunistas, anti-esquerdistas.

Isso traz para toda a esquerda um dilema que vai além da superação do petismo, um tipo de reformismo fraco que não angariou propor um salto para além daqueles conseguidos por meio do acesso ao consumo de bens duráveis e não-duráveis e a consequente expansão do mercado interno. Há uma necessidade não apenas quantitativa, mas também no que diz respeito à qualidade. E uma necessidade premente.

Boa parte da esquerda hoje, infelizmente, está pautada por discursos pós-modernos, pequeno-burgueses, que têm um diagnóstico correto de muitas das mazelas que envolvem as minorias, mas têm também equívocos gravíssimos no que tange as propostas para resolver tais dilemas e aqueles que os amarram ao modo de produção vigente. Esses erros, que vão desde defasagem teórica até mesmo a reprodução do caráter conservador do pós-modernismo, que não supõe a superação da sociedade de classes, impede que a esquerda ultrapasse os limites do esquerdismo de classe média, pequeno-burguês, que dá o tom nas redes sociais e pouco consegue gerar simpatia nos trabalhadores mais explorados dentro do sistema capitalista -- e que são a maioria obviamente.

Essa situação difícil da esquerda também associada à conjuntura desfavorável, afinal o gestor da crise é um partido que se diz de esquerda, que monopolizou e direcionou as lutas populares nos últimos 30 anos, faz da missão algo mais difícil, mas ainda mais necessária. O discurso conservador, que mais grita do que de fato tem adeptos, soa muito convincente pela retórica simplista e cheia de lugares-comuns. Apraz a esquerda, toda ela, ampliar suas vozes e também qualificá-las. Não dá mais pra pensarmos em intelectuais incrivelmente competentes, capazes, mas fechados aos pares, no mundo acadêmico, uma minoria de classe média que nunca pautou e nem pautará temas relevantes na opinião pública. É preciso sair do gueto, de forma humilde, ouvir mais do que falar até. E compreender nossa missão histórica e empreendê-la da melhor forma possível, pois a direita, toda ela, da liberal àqueles mais reacionários, estão aí lutando -- e de forma muito competente às vezes, admitamos -- por corações e mentes. E eles têm conseguido ganhar essa batalha pouco a pouco.

Não é um mundo assim que queremos deixar para nossos filhos, netos e outros viventes dessa extraordinária experiência que se chama vida. Lutemos portanto para mudar isso. Somos sim capazes. E mais do que isso: só nós podemos fazê-lo.

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