08/07/2015

Verdades e mentiras um ano depois do 7 a 1

Hoje estamos a completar um ano de uma data histórica para o futebol mundial: o dia em que a seleção da casa, a seleção mais vitoriosa, em uma Copa do Mundo, tomou uma sonora goleada. O Brasil perdeu de incríveis 7 a 1 da Alemanha. Muito foi dito e escrito. Mas o que é verdade e o que é mentira? Um pingue-pongue e de forma descontraída proponho pretensiosamente resolver tais dilemas. (rs)



A derrota do Brasil para a Alemanha foi o maior vexame da história do futebol.

Verdadeiro:
por mais que essa seja uma questão subjetiva, é difícil dizer que não: no torneio mais importante, jogando em casa, a seleção mais vitoriosa... E perde de 7 a 1. Cinco gols nos primeiros 30 minutos, o que acabou com o jogo antes mesmo dele de fato se desenrolar. Como explicar para qualquer amante do futebol que dizia que o Brasil era o país do futebol (muito mais pelo futebol jogado do que o apreço do povo pelo jogo) e que era surrado daquela forma? E para o planeta todo ver.

A Alemanha se preparou desde 2006 pra ganhar 2014.

Mentira: uma seleção do porte da Alemanha jamais vai jogar 8 anos para testes pra só aí buscar uma Copa do Mundo. Isso é uma das lendas típicas de uma imprensa bastante interessada em vender histórias fantásticas sem antes pesquisar a veracidade delas. Houve uma reformulação no futebol alemão a partir de 2000 com um pensamento claro: melhorar a qualidade do futebol. Essa melhoria se entendia por Bundesliga (campeonato alemão) e seleção. Em 2006 alguns jogadores já apareciam (como Lahm e Schweinsteiger) e se somaram à geração de 2002, vice-campeã mundial. O intuito -- e não poderia ser outro -- era vencer o mundial em casa. A derrota para a Itália foi melhor aceita porque entendeu-se ser ali o limite daquela equipe -- que meses antes, em amistoso, havia perdido para aquela mesma Itália por 4 a 0.

Em 2010 com Joachim Löw, que substituíra Jurgen Klinsmann, a Nationalmannschaft fez uma vez mais uma Copa boa, com algumas ótimas apresentações, e terminou como na Copa anterior com o terceiro lugar. Como a base ainda era jovem, houve uma paciência maior. Paciência que começou a se esgotar com o insucesso da Euro em 2012 e que chegaria no limite caso a Alemanha não saísse campeã no Brasil. Diria que o Brasil não era o lugar marcado para vencer, mas a data limite.

Felipão foi o maior culpado.

Verdadeiro, mas...
todo o trabalho da comissão técnica foi ruim. Ficou-se com a imagem de um jogo bom, contra a Espanha, na pouco valiosa Copa das Confederações, e o esquema tático ficou calcado apenas naquela perspectiva: pressão na saída de bola; chutão do David Luiz quando a zaga tivesse a ser pressionada; e que o Neymar resolvesse na frente. Muito pobre. E quando o Brasil enfrentou a Alemanha, um time mais forte, tentou fazer o mesmo e deu o contra-ataque. Resultado? Gol da Alemanha.

Alemanha era muito superior ao Brasil e por isso venceu com facilidade.

Controverso:
A Alemanha era sim superior. Mas quanto? Talvez um 3 a 0 (sem Neymar e Tiago Silva) descrevesse a diferença técnica e tática dos dois times. É ainda assim uma vitória com facilidade. Mas o 7 a 1 está totalmente fora de cogitação. Se Brasil e Alemanha jogarem umas 20 vezes, a chance do placar se repetir é zero. E com todos os problemas pelos quais passa a seleção brasileira, mesmo assim hoje ela está mais arrumada que a alemã, que está se reconstruindo após 2014 (por isso inclusive era uma data limite, já que muitos jogadores já estavam na casa dos 29, 30 anos e saíram da equipe).

O lado emocional atrapalhou.

Verdadeiro:
nenhuma seleção do porte da do Brasil toma de 7 apenas por questões do futebol, de campo e bola. O time era inferior, o técnico pilhou demais o time, com uma estratégia de ver um inimigo a cada esquina (o velho discurso do Scolari de que havia um complô contra o Brasil...), havia uma bagagem pesada (basta lembrar da série da Globo com os jogadores lembrando de histórias de vida difíceis...) e muita pressão. Com a estratégia de jogo errada e erros individuais crassos de David Luiz, o Brasil tomou 1 a 0 e sentiu o baque. Mas manteve-se vivo. O 2 a 0 derrubou o time. E dali em diante foi uma sucessão de erros e descontroles.

Se a Copa fosse na China e não houvesse todo aquele cenário de "vencer ou vencer", a chance do time se retrancar depois do 2 a 0 e o jogo encerrar com este placar -- um placar normal -- seria bem razoável.

Neymar foi o melhor jogador brasileiro na Copa.

Verdadeiro:
ao lado de Thiago Silva (apesar do descontrole contra o Chile nos pênaltis e o cartão bobo no jogo contra a Colômbia), que fez partidas muito seguras na zaga, segurando inclusive a impetuosidade e as várias falhas de marcação de David Luiz, Neymar foi o grande nome do Brasil no mundial.

Fred foi o pior jogador da Copa e do Brasil.

Mentira: Fred era e ainda é o melhor centroavante brasileiro. Deu azar de jogar em um esquema que a bola chegava muito pouco. Mas mesmo assim era peça importante, abrindo espaços para Neymar e a fazer o pivô. Fred não foi pior que Paulinho, por exemplo, um jogador que havia feito boas apresentações na Copa das Confederações (por uma série de motivos que iam desde estar na metade de temporada por atuar no Brasil enquanto os outros vinham da Europa e em final de temporada; até pelo nível da competição, mais frágil) e que no mundial foi uma aberração. Outro que me pareceu muito pior que Fred -- embora a imprensa que não sabe analisar jogo o tenha alçado à posição de ídolo -- foi David Luiz. Várias lambanças desde o início da Copa do Mundo. Sempre salvas pelo polivalente Thiago Silva. Na semifinal não estava Thiago. E David Luiz foi uma catástrofe: 6 dos 7 gols foram em erros seus.

Essa geração do Brasil não tem qualquer chance de vencer uma Copa.

Controverso:
muito acima da média, mesmo, só o Neymar. Thiago Silva é muito bom zagueiro e o resto é de bons jogadores quando em bons esquemas. Podem sim formar um time campeão. Mas antes precisariam de um bom técnico. Eis a parte mais difícil.

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