07/07/2015

Grande derrotada no plebiscito na Grécia foi Merkel.

O KKE (O Partido Comunista Grego) saiu-se muito bem ao destrinchar o que estava em jogo no referendo realizado no último Domingo (leia aqui): duas propostas de austeridade, uma mais branda e em prol da burguesia nacional, capitaneada pelo Syriza; e o asfixiamento imposto pela Troika, mais especificamente pelo governo alemão.

Uma saída que chutasse os fundilhos da Troika, da burguesia nacional, da exploração de classe e pudesse, desta forma, trazer dias de prosperidade pra classe trabalhadora grega nunca esteve em jogo desde a eleição do Syriza - o PSOL grego. O discurso sempre foi de conciliação e busca pelo entendimento. E nessa perspectiva, diga-se, o Syriza na figura de seu primeiro ministro Aléxis Tsípras sempre foi bastante ponderado, nunca puxando a corda para além do que o "jogo burguês" poderia aceitar -- algo que o banditismo travestido de jornalismo no Brasil como por exemplo a Globo News e o Jornal da Globo tentaram fazer parecer o contrário. Outros bufões e bobos dos jornais da grande mídia que ninguém lê foram na mesma linha.

Essa afirmação é tão incorreta e tão absurda que ignora inclusive o caráter recente da imposição de austeridade da Troika, que é político-eleitoral. No final do mês passado (como você pode ver aqui) falava-se que um acordo estaria praticamente concluído. Essa mesma imprensa brasileira o noticiou. Mas a Comissão Européia, em face à pressão da periferia da Zona do Euro e do temor do que poderia ser considerada uma vitória do Syriza, a espalhar assim uma onda que poderia derrotar partidos que aplicaram o plano de austeridade (mais notadamente o caso da Espanha, onde o Podemos é uma espécie de Syriza espanhol e se projeta com grandes chances de vencer), a Comissão Européia resolveu retroagir e desfazer o que estava praticamente acordado.

E foi aí que o governo alemão, que nesses últimos anos, com a relativa estabilidade econômica em face à difícil situação dos demais países do euro, tomou a liderança da UE e, na figura de Merkel, coordenou a expansão de políticas para os países da região, incentivando e por vezes impondo planos de austeridade, tomou uma decisão arriscadíssima: sufocar o Syriza. E esse foi o tom da última proposta da Troika: de rendição da Grécia. Tanto que houve o burburinho de que o Tsípras possivelmente renunciasse caso o "Sim" se saísse vitorioso no referendo.

A vitória do "Não" nos termos em que se deu (Com 100% das urnas apuradas, 61,31% dos eleitores optaram pelo "não" enquanto que 38,69% dos gregos votaram "sim") foi uma grande derrota para o governo alemão, para Merkel especialmente. A descompostura do vice-chanceler alemão ao afirmar que "Tsípras destruiu todas as pontes que poderiam levar a um acordo" mostra o desespero diante da acachapante derrota. Um desespero de uma posição que não é uniforme dentro da Troika: o Fundo Monetário Internacional publicou recentemente estudo que corrobora com a visão do Syriza e afirma que o asfixiamento da economia grega seria péssimo para a UE, bem como o país precisa de empréstimos a juros mais baixos. Uma carta na manga que o novo Ministro das Finanças, Euclid Tsakalotos, que substituirá o carismático e competente Yanis Varoufakis, certamente usará nas próximas reuniões.

E o futuro da Grécia começará a ser decidido hoje, em Paris, numa mostra simbólica e clara de que Berlim vai aos poucos deixando a centralidade do comando político e ideológico da União Européia. E que esse, parece-me, vai rumando aos braços de François Hollande, que embora tenha feito coro com Merkel e seu governo com forte viés autoritário, foi mais flexível e diante dos últimos acontecimentos não tomou parte de forma incisiva da tentativa da Comissão Européia liderada pelos alemães em liquidar a Grécia e o Syriza. Os franceses agora aparecem como interlocutores mais razoáveis nesse processo.

Destarte, se não é possível afirmar ainda quais os desdobramentos para a Grécia do resultado do plebiscito e quais as próximas tendências políticas na Europa a partir da confluência desses acontecimentos, parece-me indubitável que Merkel e o governo alemão são os grandes derrotados desde já. E crise econômica interna que se avizinha é outro problema que a chanceler tedesca terá de enfrentar -- e que pode dar sinais agonizantes ao fim da gestão de Angela Merkel, aquela que foi depois de Hitler a primeira alemã a ter prevalência no processo político na Europa.

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