29/09/2015

Ou a totalidade ou a barbárie.

Eu não sei como, quando e onde, mas a esquerda perdeu a capacidade de propor algo para o trabalhador comum. É o negro, é a mulher, é o LGBT, é o menor infrator e tal, o que é muito louvável, mas não se fala mais de trabalhador, salário, exploração. A esquerda hoje é minoria em quantidade e no seu projeto de defesa do mundo, algo que Slavoj Zizek versa há bastante tempo quando assevera que a esquerda moderna fala de indivíduos e a direita de povo.

E como não poderia ser diferente, até por suas tendências pós-modernas de negação da totalidade, as defesas dessas minorias quase sempre vêm calcada em uma perspectiva reformista, que limita ainda mais o nosso raio de ação. Discurso de onguismo de classe média é predominante e sem vislumbrar qualquer transformação real do todo.

E diante desse vácuo quem melhor consegue se propor na fala para trabalhadores hoje é indiscutivelmente a direita liberal, que com a ascensão social calcada no consumo validada pelo lulo-petismo, a ratificar a noção de que "ter é poder", a impulsionar ainda mais esse discurso -- e que é muito bem aceito entre a classe média, claro --, encontrou um campo fértil para atuar. Então nada mais válido diante dessa lógica que dizer "vamos diminuir os impostos pra você consumir mais". É o equivalente á defesa da "neo-justiça social" pós Nova República dentro dessa perspectiva macabra. Além disso, e que é sine qua non, a direita fala de consumo, algo que atinge a todos e não só o Zé, a Maria e o Antônio.

No entanto não quero dizer que as minorias devem ser esquecidas, longe disso, pois seria um enorme retrocesso pensar assim, só que quando se perde de vista que essas minorias estão dentro de uma maioria, a classe trabalhadora, o resultado é o que vemos. E o que vemos é uma quantidade enorme de gente que compartilha e concorda com os argumentos de páginas liberalóides (porque os argumentos são muito rasteiros) no Facebook e em outras redes sociais. E o mais terrível: não são pessoas ricas, brancas, heterossexuais e que se enquadram sempre em certo estereótipo lançado aí. É gente pobre, negra às vezes, moças, jovens que atuam em trabalhos precarizados... é gente inclusive que se encaixa nos conceitos de minorias que a esquerda hoje tanto se apega. São pessoas que aprenderam a desejar a riqueza como um objetivo fulcral apesar da condição de vida muito difícil e da impossibilidade de consegui-lo.

É duro dizer isso, mas hoje a esquerda discursa para a classe média intelectualizada e humanizada e os liberais, historicamente muito elitistas, falam pro povo. Vamos nos ferrar legal se deixarmos o jogo continuar assim. 7 a 1 vai ser só nos 20 primeiros minutos -- se é que conseguiremos fazer o 1.

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