12/04/2015

Análise parcial das manifestações de hoje contra o PT, a Dilma - e sim, não ignoremos - e a esquerda

Alguns jornalistas governistas passaram o dia todo no tuíter a celebrar que o ato foi minguado. No tipo estilo de torcida de futebol que é bem próprio dessa guerrinha pela hegemonia dentro do Estado burguês entre petralhistas e coxinhistas, os dois novos polos da pobreza do pensamento nacional.

Do ponto de vista dos que queriam derrubar a Dilma já agora, de fato foi um fracasso. Mas essa é uma minoria que não tem qualquer aspiração real no momento. Nem a burguesia e nem os setores políticos em torno desta se interessam por um momento de instabilidade quando, apesar dos pesares, a economia vai indo e o governo adota os programas neoliberais de gestão propostos pela oposição, sendo fraco o suficiente pra não conseguir nem mesmo se contrapor àquilo que vai ainda mais à direita do que o receituário azedo do banqueiro Joaquim Levy preconiza.

Para grupos de mídia, organizadores e os partidos políticos de oposição, o ato foi um sucesso: meter 100 mil pessoas em um Domingo, seja onde for, com pautas genéricas mesmo com todo o esforço da grande imprensa não é pouca coisa. A pauta da vez é ainda mais moralista, nacionalista, anti-esquerda e fascista que no último ato. E quanto mais se reduza, mais assim o será. E é um cenário que a oposição tenta evitar falando abertamente em impeachment, pra tentar fazer o movimento não arrefecer a ponto de ser sequestrado pela extrema-direita. E é uma proposta difícil diante da falta de liderança (leia-se Aécio).

Não pude acompanhar todos os grupos de imprensa, e ouvi por aí que Globo, Folha e Estadão usaram fotos dos atos passados ainda no período da manhã, inflando o tamanho da coisa. Mas isso é bobagem, pouco importante. O sine qua non aqui é a construção da retórica, do discurso. Na Globo News, havia enorme exaltação. A carapuça anti-governo foi alocada e foi bradada sem muitos pudores. A Globo no Fantástico foi mais sutil, mas não menos parcial: tratou de jogar uma cara de civismo no ato e de atrelar diretamente às manifestações contra a corrupção nas costas da Dilma e do PT. Depois uma fala de um líder do PT, que usou do petralhismo pra criticar a classe média; e de um porta-voz da OAB a condenar os atos que pediam intervenção militar, a emissora veiculou uma pesquisa do Datafolha que demonstra que 63% dos brasileiros são favoráveis à abertura de processo de impeachment.

O discurso está construído: ele vai pra cima do PT e seu objetivo não é outro que não acabar com o Partido dos Trabalhadores. Chamou-me muito atenção quando alocaram uma tiazinha pra falar e a mesma afirmou que luta "contra a corrupção e por mais saúde e educação". O jogo aqui é claro: "Sua vida é uma merda porque o governo é corrupto; não porque o Estado não existe pra melhorar sua vida''. O discurso vai nesse tom e vai ser levado a cabo até 2018.

Quem celebra o suposto fracasso do ato parece viver no mundo da fantasia. O PT está sendo aos poucos sepultado, com golpes fortes, constantes e que a estrutura burocratizada do partido e atrelada aos interesses do capital é incapaz de fazer cessar. O grande problema é que junto com o PT, que pra mim já tá claro que como partido político, e associações a ele ligadas, como UNE e MST, estão fadados à morte, a esquerda vai sendo atacada, mutilada e tendo seu campo de ação fortemente reduzido. É um preço a pagar por uma vez mais ter caído no conto da democracia-burguesa.

No entanto, sou otimista: como diriam os gregos, a crise não é estado próprio do fim, mas ponto inicial para o novo. Com o fim do projeto lulo-petista do PT, da falta de legitimidade de sindicatos pelegos, de grupos de apoio que usam bandeiras e símbolos comunistas sem nunca ter feito jus à isso, a esquerda revolucionária uma vez mais, unida, poderá se reconstruir sem as sombras desse nefasto conto de conciliação de classe e, por fim, atingir aquilo que buscamos.

Mas vai demorar. E é preciso trabalho. E muito qualificado.

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