18/07/2016

Uma crítica aos críticos da URSS

Seria possível substituirmos nossa luta pelo socialismo por uma na busca de um Estado apenas mais provedor mantendo assim o capitalismo? Essa é uma questão que assola a esquerda e que para muitos depois dos anos 1960 -- hoje eles todos em processo de degeneração e falência -- a resposta foi sim. Mas cabem algumas reflexões.

Uma delas é se haveria Estado de Bem-Estar Social em alguns países da Europa não fosse o capitalismo americano e europeu fincado na exploração do então e dito terceiro mundo. Antes de mais nada é preciso dizer que o Welfare State só foi possível de ser conquistado porque havia a ameaça do perigo vermelho, que desde muito antes na URSS possibilitava aos trabalhadores uma condição de vida e dignidade que no lado do Ocidente capitalista não havia. E só houve Estado de Bem-Estar Social na Europa e uma boa vida nos EUA para a classe trabalhadora porque havia ditaduras financiadas nos trópicos e um histórico de pilhamento do povo da América Latina e África pelos capitalistas das potências setentrionais.

Este fato inconteste muitas vezes ignorado é apenas uma das faces de não entender o capitalismo como uma questão global que precisa ser entendido na sua totalidade; analisá-lo a partir de frações é a melhor forma de não entendê-lo. Ou de se fazer o entendimento que bem se queira.

Dizer que a URSS não era democrática, ou verdadeiramente democrática, nos impõe uma questão: quem era uma verdadeira democracia, então? Os EUA impedindo que negros e mulheres tivessem os mesmos direitos que a parcela masculina branca? O papo um tanto descolado da realidade de que apontar os erros de um não converge em aceitar a realidade do outro nega um fato dado e concreto: que foi esse discurso e ainda o é que demoniza a experiência soviética e que reafirma o capitalismo e a democracia burgo-liberal como inquestionáveis e o objetivo único a seguir. A militância petista gritando por democracia não como um método tático, mas como fim estratégico não me deixa mentir. Afinal, democracia aqui é entendida como mero direito à liberdade de expressão e voto formal. Direito à educação, dignidade, moradia, saúde, lazer e todo o resto não são incluídos no conceito.

Cabe perguntar: que democracia temos, com saúde e educação precarizadas para a maior parte da população, lazer privatizado, violência urbana e uma população enorme à margem? Ah, mas você pode votar e escrever besteiras na internet, dirá alguém antes de bradar viva a liberdade!

É, viva. Viva a democracia burgo-liberal e o direito à liberdade de expressão (muito bem cerceados quando incomodam o status quo, diga-se.)

E o discurso de que a população do Leste europeu estava saturada do socialismo é outra balela enfiada goela abaixo pelos meios de comunicação burgueses. Houve um plebiscito em 1991 e 76% da população votou pela continuidade da União Soviética. Ou seja, havia insatisfação, e isso era óbvio e não há uma única experiência de qualquer regime que seja que não tenha insatisfeitos, mas é inegável que a base de apoio era bastante maior do que a que se encontra hoje nos... EUA! Em 2008 fez-se uma pesquisa perguntando o que as pessoas preferiam, se socialismo ou capitalismo. Apenas 51% disseram preferir o sistema econômico atual. Isso nos EUA... Imagine no Quênia ou no Haiti...

Continuando, o fim da URSS e do socialismo nada mais foi que uma decisão da burocracia de Estado e dos emergentes capitalistas de lá com apoio das oligarquias financeiras do Ocidente. Que a URSS tinha problemas, sem dúvida os tinha, não os tivesse o povo teria ido defendê-la, não se posicionado de modo amorfo, mas passam esses problemas muito distantes dessa linguagem repleta de acusações do lado dos que venceram. E os que perderam com o fim da URSS foram indiscutivelmente os trabalhadores de todo o mundo.

Ou, para responder a questão que dá início a esse texto: em que lugar do mundo a social-democracia sem o medo do perigo vermelho se manteve e não deu lugar a um sedento neoliberalismo privatizante e fomentador de exponenciais desigualdades sociais?

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